Haverá dólares suficientes na Argentina para manter uma situação de aparente normalidade até o próximo domingo? Em um país à beira da incerteza total, essa pergunta pode fazer a diferença entre uma eleição tensa e ou simplesmente caótica.
O dia 22 de outubro é a data de eleições gerais no país, ou seja, à presidência, ao Congresso, a governos locais. Desde que o dólar atingiu mil pesos na cotação blue - câmbio paralelo mais usado no país, porque se faz poucos negócios com o oficial, que vale 365 - a inquietação com o abastecimento de divisas é a preocupação dominante.
Oficialmente, o Banco Central da República Argentina (BCRA) afirma ter US$ 25,2 bilhões em reserva. Parece pouco perto dos US$ 340 bilhões do Brasil. Houve queda de 43,4% desde o início do ano, o que significa que o equivalente a US$ 19,37 bilhões deixam o país.
Mas nem essa cifra escassa é confiável, advertem economistas argentinos. Martín Redrado, o ex-presidente do BCRA que ficou mais tempo no cargo, estima que na verdade já faltam US$ 6 bilhões para cobrir as necessidades essenciais de divisas. Foi por isso que, no final da semana passada, o governo argentino restringiu ainda mais o uso de dólares - inclusive para importações.
Há muitas outras perguntas. O clima é descrito, no meio econômico, como "incerteza total". Não se sabe se haverá dólares suficientes para as necessidades especiais. Não se sabe se a questão eleitoral será definida no próximo domingo, em primeiro turno, ou se vai se estender até 12 de novembro, data prevista para a "balotage", como segundo turno é conhecido lá.
Caso haja vitória no primeiro turno, o provável vencedor será Javier Milei, que se define como "anarcapitalista", visto com muita desconfiança inclusive nos círculos mais capitalistas do país. Com uma campanha baseada em frases e gestos de impacto, o candidato é uma incógnita do ponto de vista pragmático. Será que vai mesmo dolarizar, como anuncia na campanha? E como, em um país sem dólares? Milei já afirmou que peso desvalorizado simplificaria esse processo. Mas não se sabe se é consciente de quão escassas estão as divisas.