Setembro caminha para o fim com novos sinais da severa mudança climática no planeta. No Brasil, a tradução foi temperaturas escaldantes na transição entre inverno e primavera fora do Rio Grande do Sul. No Estado, os efeitos provocaram cenas de pesadelo no Vale do Taquari, nas ilhas do Guaíba, na orla tomada pelas águas e em boa parte da Metade Sul.
Meteorologistas que há décadas têm esse cenário no seu horizonte avisam que há um "novo normal" climático. Mesmo para os que procuram estar atentos para as consequências, é difícil pensar que não seja um "novo anormal".
Com qualquer denominação, as circunstâncias mudaram, é evidente. Então, o que é preciso fazer com essa informação? Não ignorá-la nos planos para o futuro. É preciso redefinir, com novos critérios, as áreas que podem ser atingidas por enchentes, em áreas urbanas ou rurais. E treinar à exaustão equipes capazes de convencer moradores a se mudar - convencer, não expulsar.
Para que o convencimento funcione, é preciso criar rotas de fuga e estrutura para receber quem terá de deixar suas casas. Isso não significa gastar fortunas que não temos em grandes obras, mas adaptar espaços que já existem para ocupação temporária: escolas, ginásios esportivos e - por que não? - igrejas. Também é preciso começar a ensinar as crianças, nas escolas, como agir
É preciso avançar com urgência em sistemas de alertas antecipados que permitam salvar bens, e, principalmente, vidas. Vigiar para não desperdiçar nem mais um centavo, público ou privado, em planos de prevenção que não saem do papel. É preciso incluir planos de prevenção de catástrofes climáticas nas campanhas eleitorais. E cumprir as promessas feitas.
É preciso mudar os cálculos estruturais, tanto de obras públicas que definem a mobilidade humana e de carga quanto de projetos residenciais. É preciso considerar que já ocorre queda de granizo com pedras do tamanho de ovos antes de prever reforma ou obra que envolva grande quantidade de vidro. E lembrar que árvores não apenas ajudam a "segurar" o leito dos rios em episódios de enxurrada como auxiliam na regulação da temperatura nas cidades. E que desempenham melhor esse papel se forem nativas.
E épreciso não esquecer que não é só a chuva que destrói vidas e arrasa a economia. Ali adiante, pode voltar um período de forte estiagem, para o qual é preciso planejar como irrigar a lavoura e garantir a sobrevivência dos rebanhos neste Estado que é tão dependente da agropecuária. E é preciso cobrar dos governos muito mais do que distribuição de cestas básicas ou outro tipo de ajuda tópica depois de uma tragédia como a que o Rio Grande do Sul vive neste mês que seria de celebrações.