Mesmo sem a enormidade do primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) do período entre abril e junho voltou a ser uma boa surpresa. Havia expectativa até de resultado negativo, mas o IBGE anunciou um crescimento robusto de 0,9% ante os três meses anteriores e expressivos 3,4% na comparação com o segundo trimestre de 2022.
Desta vez, não foi o agronegócio que salvou a lavoura. Mesmo a queda de 0,9% ante o primeiro trimestre foi melhor do que as projeções, enquanto indústria (+0,9%) e serviços (+0,6%) tiveram bom desempenho. Para permitir comparações, é verdade que a desacelaração da China inquieta o mundo, mas o gigante asiático cresceu 0,8% no trimestre.
Então, mesmo que não possa ser chamado de "pibão", nem renda reações tão entusiasmadas - viramos "sultans of soybean" depois da divulgação do crescimento de 1,9% no primeiro trimestre alimentado na lavoura -, esse resultado deve provocar revisão adicional para o resultado do PIB no final do ano, que hoje está em 2,29% nas projeções mais frequentes do boletim Focus, do Banco Central.
Afinal, conforme o próprio IBGE, o crescimento econômico acumulado no primeiro semestre é nada menos de 3,7%, enquanto os últimos quatro trimestres acumulam alta de 3,2%. Se foi possível escapar de um número negativo no segundo trimestre, é provável que um resultado no vermelho nos aguarde, pelo menos, no terceiro trimestre.
O economista André Perfeito, que já está com projeção acima da mais frequente, avisou:
— Isso força revisão da nossa projeção de PIB para 2023 de 2,5% para 3% e mantemos a projeção de 2% para 2024.
Ele observa que, do ponto de vista da demanda, o resultado foi muito influenciado pelo crescimento de 0,9% no consumo das famílias. Avalia que esse impulso decorre da elevação da massa salarial real habitual, que vem subindo por conta da inflação sob controle e de medidas de governo que levam a aumento de demanda.
A olho nu, a indústria não teve um trimestre exatamente brilhante. Ao contrário, o setor se ressente do juro ainda alto e do consumo ainda condicionado por dívidas acumuladas e crédito caro. Dias antes da comunicação do PIB, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi), havia observado que "frações relevantes da indústria acusaram perdas no acumulado do primeiro semestre de 2023, em comparação com o mesmo período do ano anterior".
Atualização 1: conforme Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Rena, o resultado acumulado nos dois primeiros trimestres deixou "carrego estatístico" de 3,1%. Isso quer dizer que. se o Brasil não crescer mais nada até o final do ano, já terá crescimento deste tamanho em 2023. Andréa destaca o fato de que o resultado do segundo trimestre tem "abertura qualitativa boa". Isso significa que o crescimento foi disseminado entre todos os componentes do PIB, tanto em relação ao trimestre anterior quanto na comparação com igual trimestre de 2022. na margem quanto em bases anuais. Resumo da ópera? "resultado melhor que o esperado no ano".
Atualização 2: relatório da Guide Investimentos assinado por Victor Guglielmi, Rafael Pacheco e Fernando Siqueira, observa que "o número mais forte mostra uma resiliência importante da economia brasileira". Os economistas revisaram a previsão anterior de crescimento para o ano de 2,5% para 3%.
Atualização 3: para Étore Sanchez e Guilherme Souza, da Ativa Investimentos, o resultado "traz otimismo por si, mas está ainda longe de denotar um crescimento estruturalmente robusto da economia, visto que teve impulso altamente associado a itens básicos, enquanto os investimentos seguem deprimidos". Os dois revisaram a projeção para o PIB de 2023 de 2,2% para 2,7%. Para 2024, de 1% para 1,3%.
(Esta nota será atualizada ao longo do dia.)