Na esteira de crescimentos registrados na indústria e nos serviços, e de uma leve queda na agropecuária, o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre avançou 0,9% na comparação com os primeiros três meses do ano. Os dados, divulgados nesta sexta-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vieram acima das expectativas do mercado — que apontavam para desempenho mais contido, entre 0,3% e 0,4%, no período.
Com o resultado, a atividade econômica do país nos quatro trimestres terminados em junho acumula elevação de 3,2% na relação com os quatro trimestres imediatamente anteriores. No semestre, o avenço é de 3,7%.
De acordo com o IBGE, o destaque na performance foi a indústria (+0,9%). O setor se beneficiou com os segmentos extrativistas (+1,8%), construção civil (+0,7%), eletricidade (+0,4%) e de transformação (+0,3%).
Também no campo positivo, os serviços, alavancados pelas atividades financeiras, de seguros e de transportes, registraram alta de 0,6%. Por outro lado, a agropecuária — mesmo em queda de 0,9% — surpreende, pois, nos três meses encerrados em abril, havia sustentado a alta de 1,8% com ajuste sazonal, ao apurar crescimento de 21,6%.
Entre os economistas, há os que percebem nos números os sinais de manutenção do crescimento iniciado no primeiro trimestre e aqueles que enxergam o princípio de um movimento de desaceleração. No primeiro grupo, o economista Carlos Honorato, professor da Fundação Instituto de Administração, doutor e mestre em Administração pela FEA/USP e da Fia Business School, pondera que o crescimento pode ser pequeno, mas quando confrontado com outras economias em dificuldades ou em retração ao redor do mundo, e também em meio a processos inflacionários, a avaliação se torna mais consistente.
— Ainda não se trata da efetivação das expectativas, ou seja, não é algo tracionado e com possibilidades de ser muito surpreendente, mas demostra uma retomada positiva e há uma tendência de encerrar o ano acima de 3% de crescimento — analisa.
Para Honorato, essa trajetória pode ser auxiliada com o andamento da reforma tributária e a manutenção do ciclo de redução das taxas de juro. Juntos, acrescenta, esses elementos destravariam o ambiente econômico e o consumo das famílias.
Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS, faz leitura oposta. Segundo ele, trata-se de uma desaceleração diante do que foi observado no primeiro trimestre, e aponta como fatores para a diminuição do ritmo, associada com as menores taxas de geração de vagas no mercado de trabalho, uma taxa Selic ainda em patamar prejudicial ao crédito.
— Não imagino que o mercado de trabalho vá manter a mesmo embalo dos últimos trimestres, o que tem influência sobre o consumo. Sem mencionar que ainda vamos colher os efeitos restritivos dessas taxas por alguns trimestres até o ano que vem, quando deveremos observar um 2024 com menor atividade do que nesse período pós-pandemia — projeta.
O efeito agro
O economista e professor da UFRGS, Marcelo Portugal traça dois cenários para estabelecer sua análise. No primeiro, considera que, embora o PIB tenha desacelerado em relação ao primeiro trimestre (passado de 1,8% para 0,9%), “o ritmo continua forte”. E justifica: a expansão de 0,9% em três meses corresponde a um crescimento anualizado (ou seja, em 4 trimestres) de 4%.
– É algo acelerado na relação com nossa média histórica desde os anos 1990, que é de cerca de 2,3% ao ano – informa.
No segundo panorama, lembra que, caso se extraísse o efeito da agropecuária – responsável por inflar o PIB do primeiro trimestre com uma safra acima de 300 milhões de toneladas de grãos e 21% de alta no período – fica comprovada, outra vez, a aceleração do ritmo de crescimento:
– Sem a ajuda de São Pedro (retirando-se o desempenho da agropecuária) o PIB do primeiro trimestre teria crescido 1%. Fazendo a mesma conta para o segundo trimestre chegamos a alta de 1,3%. Ou seja, sem elementos mais voláteis, no caso a agropecuária, o crescimento do PIB também acelerou na passagem do primeiro para o segundo trimestre.
Portugal credita o fato às reformas estruturais feitas nos últimos seis anos (como a trabalhista, previdenciária, privatização, abertura da economia, redução do IPI) e à postura adotada pelo Banco Central (BC), quando decidiu subir agressivamente a taxa de juros para combater a inflação:
– Os dados do PIB dos últimos seis meses demonstram um forte componente de demanda agregada. A tendência, portanto, é que o ciclo de redução dos juros continue a ser feito de forma paulatina, sem aceleração de cortes da Selic. O resultado do ano de 2023 como um todo deverá ser muito bom, e similar ao obtido em 2022 (2,9%).
Economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz pergunta: qual país do mundo tem um setor que cresceu 17% no segundo trimestre (resultado do agronegócio na comparação com igual período do ano passado) além do Brasil? Apesar de celebrar o desempenho manifesta algumas preocupações. Uma delas com a falta de infraestrutura para armazenagem e escoamento.
– Devemos crescer e as rodovias, ferrovias, hidrovias e portos são praticamente os mesmos. A falta de infraestrutura aumenta o consumo intermediário e destrói fora da porteira parte do PIB que fizemos dentro – declara.
Em igual escala, se diz apreensivo quanto à formação bruta de capital fixo (os investimentos). É que a taxa foi de 17,2% do PIB, abaixo da observada no mesmo período de 2022 (18,3%), o que é um indicativo de lata de confiança para a realização de novos aportes privados na economia.