Na semana passada, havia muita expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) abrisse ao menos uma frestinha para um corte de juro mais ousado, de 0,75 ponto percentual no comunicado que acompanhou o novo corte de 0,5 p.p.
Nesse sentido, não passou nem luz pelas 39 linhas, mas outras duas (no original) fizeram barulho no mercado no dia seguinte: "Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas".
A frase parecia óbvia, mas ajudou a provocar queda de mais de 2% na bolsa e levar o dólar de volta ao patamar de R$ 4,90 - onde ainda está. Bastou a menção à necessidade de "persecução" - do verbo perseguir - para o mercado traduzir em preço o que estava nas conversas, a incerteza sobre a real capacidade de atingir as metas previstas no arcabouço fiscal: déficit limitado a 0,5% do PIB neste ano e zero no próximo.
Nesta terça-feira (26), o BC publicou a ata em que não só não "corrige" eventual mal-entendido, como deixou bem claro que a intenção era mesmo fazer um alerta e mencionou a palavra que havia faltado no comunicado: "atingimento" - do verbo atingir:
"Por fim, o Comitê avalia que parte da incerteza observada nos mercados, com elevação de prêmios de risco e da inflação implícita, estava anteriormente mais em torno do desenho final do arcabouço fiscal e atualmente se refere mais à execução das medidas de receita e despesas compatíveis com o arcabouço e o atingimento das metas fiscais."
Ou seja, desta vez a redação do comunicado havia optado pela frase mais leve, em vez da cobrança mais explícita, e ainda assim o mercado reagiu com intensidade. A ata não faz mais do que descrever, em escassas quatro linhas, a dúvida que perdura sobre a condução da política econômica. Pela redação da ata, não foi, nem de longe, o debate mais intenso no Copom. Mas foi o que provocou maior impacto real e imediato.