Ex-ministros da área econômica costumam virar comentaristas de plantão para os grandes temas de sua especialidade. Afinal, conhecem não só a teoria, mas a prática.
Entre as notáveis exceções, estão Pedro Malan, que quando saiu já avisou que não se tornaria comentarista de gestão alheia, e, até agora, Paulo Guedes, que vinha guardando silêncio. Quebrou a discrição em um curso sobre investimentos disponível nas redes sociais e, para surpresa de muitos, preferiu falar... das boas.
— Teve muita coisa boa e muita coisa ruim. Nós podemos falar das coisas boas… A preocupação da inclusão dos mais frágeis nos orçamentos públicos, a ideia inicial de orçamento participativo, a ideia inicial da transparência, exatamente para acabar com a corrupção. Então, teve muita coisa interessante — afirmou Guedes sobre as gestões anteriores do PT.
O curso se chama "Primo Cast", organizado pelo youtuber Thiago Nigro, que tem um perfil chamado Primo Rico. A manifestação de Guedes ocorreu na segunda aula, que se chama "Paulo Guedes e o fim da disputa entre a esquerda e a direita" (confira o vídeo clicando aqui).
Ao sustentar a tese do curso, Guedes afirmou:
— Se for alguém de esquerda que respeita a propriedade, que sabe que a economia de mercado é importante, que entende que as privatizações, a Previdência, são questões, pode se atacar de forma mais eficiente. Se houver compreensão, nós estamos indo para o território de cima.
O ex-ministro defendeu o respeito ao "direito de divergir", e criticou censura a opiniões contrárias. Nos comentários, todos muito elogiosos até o ponto em que coluna conseguiu acompanhar, houve poucas menções à aparente tentativa de Guedes de reduzir a polarização, inclusive na economia.
Um observou que "nem esquerda e direita vai alavancar nossa economia, pois unidos em uma só de forma inteligente, podemos colocar nossa economia no topo (sic)". Mas foram poucos, também, os que fizeram manifestações contrárias, como um que anotou "temos um ministro da economia que não sabe nada de economia um socialista arcaico" (assim, sem vírgula mesmo).
No final da "aula magna" — que, é bom lembrar, ocorreu no meio do debate sobre a tentativa de golpe do governo que integrou —, como foi chamada nos comentários, Guedes defendeu a democracia, ressaltando que o bom funcionamento das instituições está atrelado ao crescimento econômico - como esta coluna não cansa de lembrar. O Brasil precisa entender, a essa altura, que perseguir consensos é mais produtivo do que cultivar clima para a quebra da ordem institucional. Se não for por convicção, por praticidade.