Ao comentar o celebrado discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na fase de debates da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, a coluna observou que havia faltado uma entrega ambiental, a da correção da meta do Brasil de redução das emissões, alterada no governo Bolsonaro.
A estratégia do governo foi deixar a tarefa, que chegou a ser prevista para o pronunciamento na Assembleia Geral, para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que tem mais lugar de fala no tema.
Marina fez o anúncio formal na quarta-feira (20), na Cúpula de Ação Climática: o Brasil vai corrigir o foi chamado de "pedalada climática", que na prática havia aumentado o percentual de emissões de gases de efeito estufa toleradas.
— Tenho a satisfação de anunciar hoje que vamos atualizar nossa contribuição nacionalmente determinada no âmbito do Acordo de Paris, a NDC. Vamos retomar o nível de ambição que apresentamos originalmente na COP 21 e que havia sido alterado no governo anterior - disse Marina, observando que falava em nome de Lula.
Nos anos de Bolsonaro na Presidência, houve duas revisões das metas - chamadas de NDC, sigla em inglês para Contribuição Nacional Determinada - no âmbito do Acordo de Paris da ONU. Na mais recente, em abril de 2022, uma manobra contábil previu uma possibilidade de aumentar as emissões de gases do efeito estufa, em vez reduzi-las, como prevê o acordo.
O que ocorreu foi uma mudança de método de cálculo das emissões do país em 2005, ano que serve de referência para medir o cumprimento dos compromissos. Como a base ficou maior, na prática o total de emissões do Brasil dentro de sete anos poderia ser de 1,6 bilhão de toneladas de CO2, em vez dos 1,2 bilhão de toneladas previstos originalmente. Em vez de corrigir a metodologia, a forma de evitar esse efeito foi aumentar os percentuais previstos, de 37% para 48% até 2025 e de 50% para 53% até 2030.
A "pedalada" foi um dos movimentos do governo anterior que prejudicou a imagem internacional do Brasil nas negociações climáticas, contribuindo para o isolamento político do país durante o governo Bolsonaro. A revisão foi decidida no Comitê Interministerial sobre Mudanças do Clima (CIM) - criado no atual governo. É essencial para que o país encontre mercado para seus "bônus verdes" de US$ 2 bilhões. Ousado se visto sem referência, o valor empalidece perto da projeção da necessidade do Brasil para cumprir a meta até 2030, estimada em R$ 1 trilhão em estudo do Fórum Econômico Mundial.
A correção é considerada importante pelas organizações ambientais, porque recompõe os compromissos do Brasil com mais transparência e credibilidade. No entanto, não se trata de uma promessa mais ambiciosa: apenas restaura os efeitos do compromisso assumido pelo país em 2015.