Se algo faltava para confirmar o cenário de corte de 0,5 ponto percentual na Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), nesta quarta-feira (20), veio com a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), de manter a taxa de referência entre 5,25% e 5,5%, sem nova elevação.
Assim a tarefa de levar o juro básico no Brasil a 12,75% foi facilitada pelo Fed, pela inflação controlada, pela atividade econômica moderada e pela famosa "coordenação de expectativas", já que era a decisão esperada por 9,5 entre 10 economistas.
Mesmo tudo correndo como o esperado, a coluna destacou, mais cedo, a forte especulação do mercado sobre uma eventual aceleração nos cortes, para 0,75 ponto percentual, até o final do ano. Na busca por sinais que ancorassem essa expectativa, a coluna brincou que não havia tensão por números, mas por letras: o comunicado seria lido com lupa para identificar sinais diferentes do já explicitado.
E havia uma mais específica ainda: a busca por um singular. Se o Copom tivesse mudado a redação do trecho que obteve a tal coordenação de expectativas - "os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões" para o singular - "próxima reunião" -, estaria aberto o caminho para o desejado corte de 0,75 p.p. na última reunião do ano, em 13 de dezembro. Não mudou. Ficou o plural.
Tão esperada pelo outro lado - um eventual alerta para redução no ritmo previsto -, a menção à disparada do petróleo só apareceu no último parágrafo, em uma explicação com asterisco de um trecho anterior: "O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente". E nada mais.
Isso não quer dizer que o comunicado não tenha sido cauteloso. Afinal, a frase inicial do texto foi "O ambiente externo mostra-se mais incerto". O resultado moderado do IBC-Br informado pelo próprio BC na véspera deu conforto, como se previa, para ser mencionado dessa forma: "Observou-se maior resiliência da atividade econômica do que anteriormente esperado, mas o Copom segue antecipando um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres".