A coluna gostaria que o gráfico que acompanha esta nota estivesse sobre a mesa do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) na tarde desta quarta-feira (2), quando será definida a nova taxa Selic do país.
A trajetória da inflação "desenha", para qualquer entendedor, o motivo pelo qual não faz mais sentido ter um juro básico estratosférico: em julho de 2022, mês que antecedeu a decisão de 3 de agosto de 2022, o IPCA ainda carregava em dois dígitos: 10,07%. Um ano depois, está em 3,16%.
Sim, parte dessa perda de altitude resultou da manutenção do juro nessa órbita - outra veio do alívio no preço das matérias-primas globais, as chamadas commodities, fora do alcance do BC. Mas a brasileira já está muito abaixo da inflação acumulada em 12 meses na zona do euro (5,3%) e nos Estados Unidos (4,8%), cujos bancos centrais ainda estão em fase de elevação das respectivas taxas básicas.
Com Selic nas alturas e inflação mais controlada, o juro real (taxa nominal, descontada a variação média de preços) do Brasil está há meses no topo do ranking mundial. No cálculo que leva em consideração a inflação dos últimos 12 meses, é uma taxa real de dois dígitos, rara no mundo e na história.
Não faltam analistas que apontam, como "obstáculo" para que o BC corte a Selic em 0,5 ponto percentual, de 13,75% para 13,25%, a insistência do governo Lula nesse tamanho de corte. É fato que o presidente da República, sem necessidade, esticou a corda de uma disputa política sem sentido com o BC - a coluna nunca deixa de lembrar que a elevação para essa órbita ocorreu dois meses antes da eleição presidencial.
Mas não é só o governo que vê espaço para o corte de 0,5 p.p.. Economistas de mercado, como Alex Agostini, da Austin Rating, e ao menos um ex-presidente do BC bastante ortodoxo, como Gustavo Loyola, estão entre os que veem espaço de sobra para afiar mais a tesoura do Copom. E muitos outros economistas Então, a pergunta que o BC terá de responder, se não fizer a maior poda possível sem riscos, será "por que não?".