Como a coluna já relatou, até uma associação de bancos projeta corte de 0,5 ponto percentual na quarta-feira (2/8), último dia da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC).
Mas foram tantos e tão bons os indicadores mais recentes sobre inflação, câmbio e projeções sobre a trajetória da dívida que, a essa altura, há risco de o BC passar vergonha se cortar menos de 0,5 ponto percentual. .
Na sexta-feira (28), logo depois que a Austin Rating comunicou a melhora na perspectiva da dívida brasileira de "estável" para "positiva", a coluna perguntou a Alex Agostini, economista-chefe da agência nacional de rating se o corte seria de 0,25 e 0,5. A resposta foi de manual:
— Não tem como o BC, aqui no Brasil, cortar menos de meio ponto. Tem de ser de 0,5 para cima. É quase impossível que corte 0,75, mas se for 0,25 é desequilibrado. Quem move o juro em 0,25 é o Fomc (comitê de política monetária do Federal Reserve, o BC dos EUA). Todos os indicadores estão sinalizando o seguinte: o BC errou em junho (ao não podar a Selic e ainda fazer um comunicado duro). Se errou e não começou em junho com 0,25, agora tem de correr contra o tempo e dar meio ponto. O IGP-M mostra que há seis meses os dados do atacado estão em deflação. Ah, mas argumentam que são commodities. Sim, mas se está caindo no atacado, a queda vai chegar no varejo. Até quanto o BC vai ficar com medo da inflação se ela já convergiu para as metas. Tem uma frase no futebol que diz 'o medo de perder tira a vontade de ganhar'. Acho que o BC tem de abandonar essa queda de braço com Lula e fazer a licção de casa, que é reduzir o juro, no mínimo, meio ponto. Menos do que isso é excesso de preciosismo. O BC não precisa mais 'provar independência', porque legalmente já é autônomo.
A resposta foi ainda mais longa, mas - devidamente autorizada - a coluna reproduziu o trecho mais relevante. A menção ao comitê de política monetária do Fed não é gratuita. Na quarta-feira passada (26), o colegiado elevou o juro americano em 0,25 ponto percentual e levou a taxa de referência americana ao maior nível em 22 anos. Para quanto? De 5,25% a 5,5%, muito menos do que a metade (40,33% considerando a parte mais alta do intervalo) do juro brasileiro. Como mencionou Agostini, nessa escala faz sentido mover a taxa em 0,25.
Então, para um juro no patamar de 13,75%, uma poda de 0,25 ponto percentual, ou seja, para 13,5%, corresponde a quase não fazer nada. Mesmo o corte de 0,5 ponto mal faz cócegas na vida real. Conforme projeção da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac) um corte deste tamanho reduzia o juro mensal médio no comércio de 5,59% para 5,55%. Caso se confirme, vai todo mundo correr para o consumo e colocar a desacelaração da inflação em risco? É claro que não.
E antes que Agostini seja "acusado" de estar "a serviço do governo" - diante da lamentável queda de braço alimentada pelo presidente da República - ao comentar a melhora na perspectiva da nota de crédito da Austin, ele observou que a decisão levou em conta a reforma da Previdência e a lei que garantiu a autonomia do BC, anteriores ao atual gestão.
E mais: no domingo à noite, à Globonews, Gustavo Loyola, ex-presidente do BC e presidente da consultoria Tendências, avaliou que a tendência é de que o corte seja de 0,25 ponto, "embora seja possível cortar 0,5". Loyola representa a essência do banco-centralismo conservador, que prioriza o valor da moeda acima de tudo. Se ele diz que é "possível cortar 0,5", realmente, não tem porque não cortar.
Atualização: depois da nova redução na projeção de inflação para 2023, de 4,90% para 4,84%, o mercado estima inflação apenas 0,09 ponto porcentual acima do teto da meta para o ano ano, de 4,75%. E para 2024, segue comodamente dentro do intervalo de tolerância, com levíssima baixa de 3,90% para 3,89%. Ou seja, o "horizonte relevante" para o Copom está dominado. Mais uma vez, não tem porque não cortar 0,5 ponto percentual. Até porque, conforme o Focus, o juro deve chegar a dezembro em 12%. Até lá, haverá quatro reuniões para cortar o juro, incluindo a das próximas terça e quarta-feiras: 1º e 2 de agosto, 19 e 20 de setembro, 31 de outubro e 1º de novembro e 12 e 13 de dezembro. Isso significa que o mercado espera corte total de 1,75 pontos nesses quatro encontros. Se for 0,5 neste, ainda faltarão 1,25, ou seja, mais dois cortes de 0,5 e um de 0,25. Se for 0,25, teriam de ser três de 0,5 seguidos.