Depois da melhora da perspectiva de crédito da S&P e do aumento da nota da Fitch, chegou a vez da mais conhecida agência de avaliação de crédito do Brasil, a Austin Rating, sinalizar que há menor risco nas negociações com os títulos de dívida do país.
A agência, que tem 37 anos de mercado alterou a perspectiva de estável para positiva para os papéis em moeda local, que tem notas BB+. A dívida em moeda estrangeira (ME) segue com nota estável em BB+ (veja a íntegra do comunicado ao final do texto).
É o mesmo movimento feito pela S&P, que indica um aumento da nota em futuro breve. Mas há uma diferença significativa: a nota da Austin já está um degrau acima (BB+) de Moody's e Fitch - a S&P segue em BB-, dois níveis abaixo - todas as demais agências, portanto mais perto do chamado grau de investimento.
— Estamos a um degrau para voltar a atingir o grau de investimento para o Brasil. É uma questão de tempo para que os fundamentos da política monetária, equilíbrio fiscal e a retomada da confiança do consumidor e indústria se consolidem para essa conquista — projeta Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.
A coluna quis saber se há um horizonte para a volta ao "clube dos bons pagadores", e Agostini respondeu que "ainda demora um pouco". E deixou claro que não se trata apenas de prazo:
— Ainda que a nota da Austin tenha só um degrau abaixo do grau de investimento, não é só uma questão de tempo. É preciso continuar com as reformas estruturantes. Foi encaminhado o texto-base da reforma tributária, o mesmo ocorreu com o arcabouço fiscal. Falta concluir a aprovação e implementar. Mas isso nos dá perspectiva mais otimista em relação ao equilíbrio fiscal. Agora, vamos acompanhar para ver se o compromisso do governo será mantido. Não basta parecer, tem de fazer. Para alcançar grau de investimento, tudo precisa dar certo. Em tese, pode ocorrer no ano que vem ou em 2025. Mas os resultados é que serão determinantes.
Em relação às contas externas, que afetam diretamente a classificação de risco em moeda estrangeira (ME), Agostini aponta "melhora no o índice de risco medido pelo EMBI (Emerging Market Bond Index), calculado pelo banco JP Morgan, que passou de 326 pontos ao final de 2021 para 256 pontos no encerramento de 2022, e atualmente está em 215 pontos".
Ainda na nota, a Austin Rating afirma que "as questões relativas ao futuro da condução das políticas monetária, fiscal e externa são acompanhadas (...) para se manifestar tempestivamente (no momento certo) sobre as contribuições e influências na dinâmica macroeconômica, em especial ao equilíbrio sustentável das contas públicas no longo prazo, com resgate do superávit primário, o controle da taxa de inflação corrente e orientação das perspectivas para sua persistência dentro dos limites toleráveis observados nas metas para inflação para os próximos anos, além das perspectivas de retomada do PIB potencial".
A agência ainda ressalta que "o ambiente político é fator determinante para a consolidação do ambiente fiscal austero a partir da aprovação das reformas estruturantes, preservando a estabilidade macroeconômica do Brasil no longo prazo". Esses fatores, conforme a Austin, "contribuem de forma positiva para o processo de revisão do rating soberano da República Federativa do Brasil e, da mesma forma, tal processo de avaliação se apoia em fatores estruturais que condicionam o desempenho da economia e sua capacidade de honrar seus compromissos fiscais e financeiros no longo prazo".