Os holofotes da economia nacional estão, outra vez, apontados para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que começa nesta terça-feira (1°) com a expectativa de que na quarta-feira (2) aconteça a primeira redução da taxa básica de juro no período de um ano no país. A Selic não foi remarcada em sete encontros consecutivos do colegiado e está no patamar de 13,75% ao ano, desde agosto de 2022, o que, com base em fundamentos macroeconômicos, é considerado um patamar muito elevado para o cenário atual.
O principal elemento que sustenta as projeções de um corte de 0,5 ponto percentual no término do quinto compromisso do Copom, em 2023, é o alívio na pressão sobre os preços da economia. A primeira deflação registrada este ano, em junho, recolocou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dentro dos intervalos previstos pelas metas inflacionárias em 2023 no acumulado de 12 meses. Se antes disso, as expectativas já giravam em torno do reinício de um ciclo de baixas para os juros, agora, a questão é tratada como fundamental.
— Não dá mais para perder tempo, o cenário pede uma atuação mais forte. Não existe condições para que o BC dê menos de meio ponto, nada justificaria que o corte venha abaixo disso (0,25%) — resume Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.
Mauro Rochlin, doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), professor da FGV/Ibre, acrescenta elementos que reforçam essa movimentação na taxa de desemprego e no cenário internacional. Ele relembra que já se acreditava nesse nível de redução (0,5 ponto), em junho, mas por fatores que envolvem uma queda de braços entre o presidente do país, Luiz Inácio Lula da Silva, e o do BC, Roberto Campos Neto, a instituição precisou realizar uma “marcação à mercado” para defender aspectos de sua autonomia.
— Não fosse isso, eu cravaria redução de 0,5 ponto, porque não é deste momento que já existe espaço para isso — argumenta.
Com base nos cenários, mais do que o tamanho do corte, os sinais do comunicado do Copom na quarta-feira deverão apontar até onde se pretende chegar. É o que afirma o economista e professor da UFRGS, Marcelo Portugal, ao lembrar que a inflação está no atual patamar por alguns fatores. O primeiro, destaca, é justamente a atuação do BC que manteve a estratégia por um ano.
Veja o que deve pesar na decisão
Inflação Controlada
A inflação oficial medida pelo IPCA acumula alta de 3,16% em 12 meses, encerrados em junho, ou seja, dentro do intervalo previsto pela meta inflacionária para este ano (3,25%, com teto fixado em 3,75%). É um movimento que não acontecia no Brasil desde o início da pandemia, em 2020, quando houve pressão adicional sobre os preços e motivou o início o atual ciclo de altas que ainda mantém os juros em patamar elevado (de 13,75% ao ano), desde agosto de 2022. Aumentar a taxa Selic é o principal instrumento do BC para frear a atividade produtiva e agir sobre o descontrole dos preços na economia.
Alívio nos Preços
Um dos fatores que contribui para a melhoria dos cenários é a redução dos preços dos alimentos, que respondem por um quarto da composição do IPCA. Além disso, subsídios concedidos para a indústria automobilística, que reduzem o valor de veículos populares nas revendedoras e a nova política de preços da Petrobras, que difere o preço dos combustíveis no mercado interno dos pagos em outros países adicionam um componente momentâneo e estimulado para a descompressão dos custos, ajudaram neste processo.
Melhores Expectativas
As projeções do mercado – a principal delas reunida pelo próprio BC no relatório Focus indicam, a cada semana, que os fatores que pesam sobre a decisão do BC só melhoraram da última reunião, realizada em junho, para cá. Houve forte queda nas previsões para o IPCA deste ano e também nos anos seguintes (o chamado horizonte relevante). Além disso, os índices que medem os preços no atacado, ou seja, funcionam como um termômetro de inflação estão em patamares bastante baixos. Esse cenário contribuiu para que o IPCA 15 (dos primeiros 15 dias de julho) tenha tido deflação de 0,07%.
Mercado de Trabalho
A taxa de desocupação no Brasil ficou em 8% no trimestre encerrado em junho, de acordo com os dados mensais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados na sexta-feira passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa é a menor taxa para um trimestre móvel encerrado em junho desde 2014, o que aponta para acertos na condução da política monetária e antevê, agora, estratégias menos cautelosas para a manutenção da resiliência do mercado de trabalho, tendo em vista que isso depende do nível da atividade econômica.
Aquecimento do PIB
Apesar do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre ter surpreendido ao avançar 1,9% no primeiro trimestre, a avaliação dos economistas é de que existe dependência ainda maior da performance do agronegócio. O fato encontra amparo na análise de índices setoriais de serviços e indústria, por exemplo, que demonstram desaceleração ou retração e antecipam que a atividade econômica necessita de um empurrão extra. Isso viria com um novo ciclo de redução dos juros, capaz de destravar o ambiente de crédito, o que privilegia não apenas o consumo das famílias, mas também os investimentos no setor privado.
Cenário doméstico e internacional
Depois da preocupação com um problema sistêmico em bancos norte-americanos e suíços e dos arrefecimentos da elevação generalizada da inflação mundial, os riscos de uma recessão global apontam para níveis menos preocupantes do que no final do ano passado, por exemplo. Nesse contexto, entre a reunião do Copom de junho e a desta terça-feira, uma das agências de classificação de risco, a DBRS Morningstar elevou a nota de crédito do Brasil de BB (low) para BB, com tendência estável. Segundo a agência, a decisão levou em conta a perspectiva de declínio nos riscos fiscais do país. Um dos destaques foram reformas que, segundo o relatório, contribuirão para a melhora nos resultados primários nas contas públicas, no período 2023-2026.
Novo Copom
Diferentemente do que ocorreu nas outras quatro reuniões do Copom em 2023, desta vez, dois dos oito diretores que compõem o colegiado, junto ao presidente, Roberto Campos Neto (voto de desempate), dois diretores deste encontro foram indicados pelo atual governo. Isso acontece porque o plenário do Senado aprovou no início do mês passado os nomes de Gabriel Galípolo e de Ailton Aquino para diretorias de Política Monetária e de Fiscalização. A ideia é de que ambos defendam ao longo das exposições de argumentos desta terça-feira, fatores que reforcem uma queda consistente para os juros.