O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
A primeira deflação de 2023 recolocou o resultado acumulado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 12 meses (3,16%) no intervalo previsto pela meta inflacionária para este ano (3,25%, com teto fixado em e,75%). Trata-se de um movimento que não havia acontecido no Brasil desde o início da pandemia, em 2020, quando houve uma pressão adicional sobre os preços da economia, com efeitos capazes de se alastrar, em cascata, por todos os países.
Agora, na comparação, a inflação brasileira já é menor do que a dos Estados Unidos (4%), Portugal (5,7%), França (5,9%), Alemanha (6,1%), México (6,3%), Reino Unido (7,8%), Itália (8,2%) e Chile (8,7%). Os dados são da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
E, por aqui, a queda de 0,08%, apontada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em junho, não deverá ser um fato isolado. É o que afirma o Mauro Rochlin, doutor em Economia pela UFRJ, professor e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), ao projetar que a baixa será sucedida por outras nos próximos meses.
– Se não houver novos episódios de deflação, mais especificamente em julho, agosto e setembro, muito provavelmente vamos verificar taxas muito baixas, porque os motivos pelos quais essa deflação ocorreu, em junho, continuam presentes – resume.
O economista se refere, mais especificamente, à continuidade do alívio no grupo de alimentação, em razão da supersafra no país e também dos atuais níveis do câmbio (o dólar abriu o pregão de hoje cotado a R$ 4,88, abaixo da barreira psicológica de R$ 5). Mas o fator que dá sustentação mais consistentes às expectativas vem de dois outros indicadores.
O primeiro, medido pela FGV, é o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), que aponta o movimento dos preços e funciona como um termômetro de inflação, porque 60% de sua composição é formada pelos chamados preços de atacado, ou seja, mede valores pagos pelos produtores. Pela lógica, se nas primeiras etapas da cadeia há recuo, em algum momento, os efeitos chegarão aos consumidores finais.
É o que acontece nesse momento. Para se ter uma ideia, o indicador apurava 36,53% no acumulado de 12 meses, em junho de 2021. Em igual mês do ano passado, bateu em 11,11% e, no momento, está no campo negativo em 7,44%.
O segundo é Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), que compõe um grupo de índices, que mede a movimentação dos preços internos em diferentes atividades e etapas do processo produtivo. Nesse caso, o indicador, que era de 37,04% no acumulado de 12 meses, em junho de 2021, agora está em 6,86% negativo.
Resultado colabora para mudança de atitude no BC
Com base no atual cenário, o economista Mauro Rochlin afirma: “não falta nada” para que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) dê início a um novo ciclo de cortes na taxa Selic, que se encontra no patamar de 13,75% desde agosto do ano passado.
Segundo ele, a queda poderia ou, ao menos, deveria ser de meio ponto percentual já no próximo encontro. Rochlin diz que há espaço para isso, porque os números da inflação, sejam os do IPCA ou os de atacado autorizam uma mudança de atitude no BC.
– Já não se trata de ousadia, mas, sim, de coerência, em vista do atual nível da inflação acumulada, das expectativas para o ano que vem e dos resultados mais recentes, há todo um ambiente favorável.