Na véspera da divulgação da inflação de junho, o primeiro boletim Focus pós-aprovação da reforma tributária consolidou o que pode ser considerada uma reversão total das expectativas econômicas. Foi o que apontou a economista da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Ieda Maria Pereira Vasconcelos.
A afirmação, apresentada em evento do Sinduscon-RS, que reuniu a cúpula do setor na sede da entidade, em Porto Alegre, ontem, é sustentada por uma constatação: nos primeiros sete meses de 2023, os principais indicadores macroeconômicos – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), taxa Selic (juros), Produto Interno Bruto (PIB) e câmbio (dólar) – inverteram projeções insatisfatórias ou negativas para o campo positivo.
O PIB, por exemplo, com base na primeira divulgação do relatório semanal apresentado pelo Banco Central (BC), em janeiro, encerraria o ano com avanço próximo da estagnação estatística (0,5%), estimado em 0,78% no ano. Chegou a cair ao patamar de 0,76%, em 10 de fevereiro, e deu início a uma trajetória de ascenção, a partir da alta de 1,9% no primeiro trimestre.
Publicada em junho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a performance da atividade nacional de janeiro a março surpreendeu até os mais otimistas e cravou no período uma alta de 1,9%.
Ontem, os 0,78% do boletim Focus de janeiro foram transformados em avanço de 2,19% e já há quem o coloque no intervalo entre 2,5% e 3%.
O mesmo vale para o câmbio. Os R$ 5,25, projetados em janeiro, agora, estão cotados a R$ 5. Na inflação, que norteia a política monetária e a decisão sobre os juros, no início do ano as projeções do BC indicavam 5,36% para o encerramento doe 2023. Em abril, atingiram 6% e bateram em 4,98%.
Hoje, a divulgação do IPCA, referente a junho, deverá apurar nova desaceleração. Isso porque os preços do atacado estão no campo negativo, o que invariavelmente acaba por reduzir os custos para o consumidor final.
De olho na inflação e juros
Para a construção civil, a inflação é tema que pode contribuir para o principal foco do setor: a taxa de juro (Selic). A boa notícia é que os atuais 13,75 – patamar mais alto em seis anos – já são precificados em 12% para o fechamento de 2023.
Por outro lado, os novos projetos dependem de capital intensivo e, portanto, sofrem influência do acesso ao crédito no mercado.
Com uma Selic em dois dígitos há mais de um ano, os efeitos são bastante visíveis. Enquanto o PIB nacional celebrou alta nos primeiros três meses de 2023, a construção amargou retração de 0,8%.
A queda setorial aconteceu sobre outro desempenho negativo (-0,6%) apurado no quarto trimestre de 2022. Apesar de manter as expectativas no campo positivo, já há reavaliações em curso e a estimativa é de que o crescimento, se houver, venha bastante contido ou abaixo do esperado