Em linha com as projeções do mercado, o Banco Central (BC) manteve a taxa de juros básicos da economia nacional em 13,75% ao ano, pela sétima vez consecutiva, nesta quarta-feira (21). Nessa reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em específico, mais do que o resultado, as expectativas estavam todas focadas no comunicado que é divulgado após os encontros.
A recente desaceleração da inflação, o crescimento econômico acima das avaliações no primeiro trimestre e a atual taxa de câmbio – abaixo de R$ 5 – eram elementos elencados pelo mercado como fatores capazes de alterar os cenários de referência do BC e que permitiriam o reinício de um ciclo de baixa já na próxima reunião, em agosto. Caso isso se confirmasse haveria a redução do atual patamar, que já perdura desde agosto de 2022.
No entanto, a ata não deixou portas abertas. Pelo contrário, afirma que o colegiado conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas e que “a manutenção da taxa básica de juros por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação”.
A frase foi um balde de água fria no mercado e nas pressões externas que pairam sobre o BC, sobretudo, por parte de setor produtivo e de segmentos do governo, inclusive da própria presidência da República. É o que diz Paulo Ricardo dos Santos, assessor da Blue3 investimentos:
- A ata contraria fortemente 0 mercado que acreditava num corte de juros já em agosto. O Texto afirma que o processo desinflacionário tende a ser mais consistentes e demandam cautela. Foi bastante incisivo, principalmente no sentido de não se antecipar a uma eventual inflação acumulada ao longo do segundo semestre. Ou seja, vai manter a atual postura até que seja possível buscara as metas.
Entre as instabilidades no horizonte, o comunicado ressalta os fatores de risco. Um dos destaques é o que denominda de “incerteza residual sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional”. De acordo com o texto, o tema é relevante para a condução da política monetária, em razão de seus impactos futuros na trajetória da dívida pública e inflação.
ALTAS
Se por um lado o comunicado desta quarta-feira (21) não é claro sobre o esperado corte da Selic em agosto, de outro, afasta de vez a possibilidade de novas altas em curto prazo. Uma frase que estava presente nas demais atas e afirmava que “o BC não hesitaria em subir juros se necessário” foi retirada do texto.
De acordo com o economista da UFRGS, Marcelo Portugal, este é um indicativo de as elevações ficaram no passado. Sobre o ‘timing’ para o início de um novo ciclo de baixas, avalia que dependerá da aversão ao risco do Banco Central e lembra que existe pouca diferença entre segurar eventuais cortes de 0,25 ponto percentual em agosto e setembro e reiniciar a trajetória de baixas em 0,5 ponto percentual daqui a três meses.
O que o comunicado indica?
Como esses comunicados buscam oferecer alguma previsibilidade, a ata se torna importante porque sinalizar para o mercado quais serão os critérios para os próximos passos. A ideia, com isso, é reduzir o grau de incertezas com a política monetária. Isso também diminui a aversão ao risco, porque, desde hoje já se sabe de antemão qual vai ser a conduta, o que ajuda a amenizaria maiores impactos sobre a taxa de juros.
Por que a Selic é tão importante?
A taxa Selic, ou o juro básico da economia é usada como referência para as operações de crédito. Trata-se de uma sigla para o termo “Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic)”. Na prática, significa que é ela é a taxa piso da economia, a taxa das taxas, ou a mãe de todas as taxas do mercado financeiro. Sempre que o BC a movimenta, influência às demais. Ao aumentá-la, o crédito fica mais caro para governo, empresas e consumidores. Ao reduzi-la, incentiva-se o investimento das empresas e o consumo das famílias. Como é ela que remunera os títulos públicos federais, também tem influência sobre o custo da captação dos bancos e o retorno das aplicações financeiras.
Qual é a relação entre juro e inflação?
Na condição de taxa base para as demais taxas do mercado, a Selic é o principal instrumento da chamada política monetária. Trocando em miúdos, é a “política do dinheiro”, porque é ela quem fixa quanto custa o dinheiro. Por essa razão, sempre que é elevada, significa que foi preciso tornar o dinheiro mais caro para frear os avanços da inflação. Como uma das causas da inflação é o excesso de dinheiro em circulação, quando se retira dinheiro de circulação ao encarecer o crédito, por exemplo, é possível conter a alta dos preços.
O que a taxa Selic altera para os empregos?
Como é a taxa Selic que define quanto custa o dinheiro, é ela quem aponta a maior disposição ou não para os investimentos produtivos. Quando está em patamar elevado, como o atual, a disposição é menor. Quando está baixa, a disposição aumenta. Maior disposição para investimento significa mais produção o que, por consequência, favorece o cenário para a contratação, ou seja, para a criação de empregos. Menor disposição para investimento, pressupõe retração, logo há uma piora para o mercado de trabalho.
Por que os juros estão tão elevados hoje em dia?
De acordo com o Banco Central, até o comunicado desta quarta-feira (21), as expectativas ainda estavam “desancoradas” para que a inflação do país ficasse no intervalo previamente estabelecido pelo sistema de metas que, em 2023, fixa o alvo em 3,5% ao ano, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima (5%) ou para baixo (2%). Havia ainda a preocupação com a inflação projetada para 2024, o que vem caindo a cada novo cenário desenhado pelo próprio Banco Central.
Por que há quem defenda que os juros deveriam baixar?
Depois da divulgação da última inflação oficial (IPCA), em 12 meses o acumulado até maio está em 3,93%, ou seja, bastante próximo da meta. Em junho de 2022, quando a Selic foi elevada a 13,75% (o atual patamar) estava a 11,89%. Além disso, existe o entendimento de que os fundamentos da economia melhoraram. O avanço de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre e a cotação do dólar abaixo de R$ 5 (o que retira a pressão inflacionária, sobretudo, nos alimentos) são alguns desses indicativos