Ainda bem que Jair Bolsonaro não é mais presidente do Brasil. Se fosse, o Itamaraty teria um imenso abacaxi para descascar nesta quarta-feira (3).
A tarefa ainda será delicada, mas de tamanho menor: a falsificação da carteira de vacinação foi feita para uma viagem pessoal a outro país, não para uma missão oficial. Ainda assim, trata-se de um chefe de Estado que entrou em outro país - os Estados Unidos - com documentos fraudados.
As negativas condicionadas de Bolsonaro - "não existe adulteração da minha parte", porque não foi quem executou - podem ter algum efeito no que lhe resta da base fiel, mas estão destinadas a sumir como sua falta carteira de vacinação diante dos dados. Conforme o relatório da Polícia Federal (PF), os certificados fraudados foram emitidos de um computador que estava dentro do Palácio do Planalto em ao menos três de datas:
- 22 de dezembro de 2022, às 8h
- 27 de dezembro de 2022, às 14h19min
- 30 de dezembro de 2022, às 12h02min
- 14 de março de 2023, às 8h15min
Durante boa parte da manhã, não se sabia se a adulteração da carteira teria sido feita para permitir uma viagem oficial do presidente dos Estados Unidos, o seria ainda mais grave. Agora, se sabe: a falsificação do documento público teria se restringido a dezembro de 2022, quando o então presidente viajou para a Flórida para não passar a faixa a seu sucessor. Exatamente quando o mesmo coronel Mauro Cid tentou liberar as joias avaliadas em R$ 16,5 milhões, em outra evidência da falta de fronteira entre o público e o privado que dominava o Planalto.
Até agora, autoridades americanas têm procurado evitar comentários sobre o assunto. Os pedidos de esclarecimento vem sendo dirigidos ao Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC na sigla em inglês), um órgão equivalente à Anvisa no Brasil. É uma tentativa de "desescalar" um eventual problema diplomático, mas esse é um assunto que ficará pendente. Ainda que sem o revestimento de viagem oficial, ainda é um chefe de Estado que usou documentos falsos, para entrar em outro país.