No primeiro trimestre, a Grendene teve receita bruta de R$ 657,6 milhões, 4,2% acima de igual período de 2022. O lucro líquido recorrente foi de R$ 156 milhões, 18,1% maior do que na mesma comparação.
E o crescimento foi puxado pelo mercado interno, com aumento de 15,2% na receita bruta. As exportações das marcas - Ipanema, Rider e Melissa, entre outras - para a Argentina, por exemplo, caíram cerca de 90%. Considerando o cenário, diz o diretor financeiro e de relações com investidores, Alceu Albuquerque, foi um "excelente resultado".
— Assim como o quarto trimestre do ano passado, o primeiro deste ano foi complicado, com inflação e desemprego ainda altos, embora recuando, incerteza no campo político e um fator inesperado, o da Americanas — diz Alceu.
Embora a Grendene aparecesse com a quarta maior quantia "pendurada" entre empresas gaúchas na recuperação judicial (RJ) da Americanas, o executivo garante que não havia grande concentração de vendas com a varejista:
— O máximo de concentração de nossas vendas com cada cliente é entre 3% e 3,5%.
O que acabou acontecendo, relata, foi um efeito colateral: os bancos suspenderam o crédito depois do "evento Americanas" e muitos varejistas com dívidas vencidas não conseguiram renegociar. Os que conseguiram tiveram de aceitar custo maior.
— O resultado foi um surto de recuperações judicias, aumento da inadimplência e a contratação de especialistas para ajudar na reestruturação. Isso aumentou a incerteza no mercado — relata.
E mesmo o aumento da demanda no mercado interno é sintoma de fases difíceis, admite o executivo. O maior crescimento veio do que a Grendene chama de "marcas da divisão 1", que são todas, menos a Melissa, a de maior valor unitário.
— Quando se compara a Ipanema à Havaianas, o desempenho é um aumento de 0,8 ponto percentual na participação de mercado. E temos avanço pelo terceiro trimestre consecutivo, chegando perto de 27% (a marca da Alpargatas tem cerca de 60%) — diz.
A estratégia da Grendene, assume Alceu, é ter preço entre 10% e 20% inferior ao das Havaianas.
— Os dois produtos têm componentes e tributos similares: ambos são chinelos, ambos são confortáveis. Em momento de crise, se alguém precisa comprar pode optar pelo de menor preço.
Mas se ter produtos mais acessíveis rendeu mais receita dentro do país, lá fora o cenário ficou mais difícil, lamenta o executivo. Enquanto as exportações de calçados em geral caíram 5,7% no primeiro trimestre, as da Grendene tombaram 15%.
— Com desaceleração global, inflação ainda alta e com frete na China caindo abaixo dos preços pré-pandemia, o produto deles consegue ser mais competitivo. Para a Argentina, reduzimos 90% das vendas, porque não exportamos sem carta de crédito, e agora nenhum banco quer dar. É um risco muito elevado. Mantemos os negócios com quem histórico, boa situação financeira e pode dar garantias alternativas — detalha.