"Superquartas" são dias em que coincidem - mas não por coincidência - as reuniões dos comitês de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), e do Banco Central do Brasil (BC).
A desta semana, que ocorre em meio a uma crise bancária, promete ser a mãe de todas essas datas pela expectativa sobre decisões, comunicados e consequências.
O maior suspense é em relação à posição do Fed, até pelos reflexos que pode ter aqui. Logo depois da quebra do Silicon Valley Bank (SVB), a perspectiva de uma parada estratégica no ciclo de alta foi acentuada e não faltaram projeções até de um corte na taxa atual. Na semana passada, mesmo depois do tombo nas ações do Credit Suisse, o Banco Central Europeu (BCE) manteve a alta de 0,5 ponto percentual prevista, o que recalibrou as apostas.
Depois da decisão de fevereiro do Fed, de desacelerar a elevação da taxa básica para 0,25 ponto percentual (pp), para o intervalo de 4,5% a 4,75%, já havia expectativa de uma parada, mesmo antes que problemas em bancos americanos começassem a pipocar. No entanto, a perspectiva de uma inflação resistente chegou a provocar projeções de que a taxa básica americana continuasse a subir até 8% ao ano. Eram posições minoritárias, mas existentes. Agora, estão ao menos temporariamente arquivadas.
E se tudo está no radar no Fed - nova alta de 0,25 pp, parada ou corte -, a incerteza não é menor no Brasil, embora uma redução na Selic de 13,75% agora seja pouco provável. Economista-chefe do Itaú e ex-diretor de Política Monetária do BC, Mario Mesquita diz que um corte neste momento seria "arriscado, com boas chances de dar errado".
O BC nacional enfrenta forte pressão política. Para terça-feira (21), data da primeira fase da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), entidades sindicais e movimentos populares convocaram um ato contra a alta taxa de juros e "dependência do BC ao capital financeiro especulativo".
Se o Fed cortar o juro nos EUA - em decisão que sai horas antes da nacional -, vai elevar a pressão que vsobre o BC para incluir ao menos algum indício de corte futuro no comunicado. A torcida pelo início do ciclo de baixa é forte: é uma rara pauta que une ao menos a parte do mercado financeiro interessada na maior atratividade das ações, quase todos os empresários e boa parte dos sindicalistas. Mesmo assim, é difícil concretizar a expectativa de que a mera apresentação do marco fiscal ou a crise que balança os bancos façam o BC se mover agora.