Foi um final de semana tenso para startups em todo o mundo e não foi diferente no Rio Grande do Sul. Na sexta-feira (10), logo que chegou a notícia da quebra do Silicon Valley Bank, grupos de conversas de integrantes do chamado ecossistema da inovação ferveram.
Nesta segunda-feira (13), depois do anúncio da criação de um programa emergencial do governo dos Estados Unidos para lidar com o problema e dos relatos de que os bancos digitais nacionais, como Nubank ou C6, não estão expostos ao risco SVB, o clima está mais sereno. Ainda assim, a quebra será um evento transformador nesse universo, avisa Bruno Bastos, presidente da Associação Gaúcha de Startups (AGS):
— Agora a situação está claríssima, a bolha das startups estourou, simbolicamente.
Afinal, o SVB era o maior banco de startups, com 2,5 mil investidores registrados, a maior parte desse segmento. Borges afirma que, embora para as startups gaúchas não exista um impacto de alto risco no curto prazo - prevê que o número desses negócios deve duplicar neste ano no Estado -, os critérios para investir em startups serão mais duros.
— O perfil e o tipo de investidor devem mudar. Os investidores-anjo tendem a ter mais direcionamento para investir, e aceleradoras, fundos e outros canais vão ser mais rigorosos, principalmente com o valuation (definição do valor de mercado do negócio) — detalha.
Parte desse fenômeno já ocorreu no Brasil, com demissões em várias startups, lembra, quando o juro básico começou a subir por aqui - bem antes do que ocorreu nos Estados Unidos.
— Para nós, isso já tinha acontecido, só não houve uma quebra grande porque não tínhamos um banco de startups. Agora, vai ocorrer em nível global por causa dos juros. Aplicar em startup que tem risco não será mais tão estratégico. Será mais difícil de ter unicórnios (startups que alcançam valor de mercado de US$ 1 bilhão) agora. As exigências para investir agora serão maiores.
Bastos afirma que não haverá quebradeira de startups, nem banco surrupiando dinheiro de investidores, mas vê pela frente "um novo modelo mundial de captação e guarda de capital" para o segmento. Em parte, avalia que não é totalmente negativo porque havia tendência de superestimar valores de mercado de startups:
— O resultado dos excessos nas valuations ia chegar. E chegou, no dia 10 de março de 2023. O mercado estava muito especulativo, um frenesi de dinheiro e investimentos.
O presidente da AGS lembra do rumoroso caso da WeWork, em 2019, cujo valor de mercado foi de US$ 47 bilhões para US$ 10 bilhões em um mês. Segundo Borges, a empresa havia feito seu valuation como se fosse uma empresa de tecnologia, mas o mercado corrigiu para os múltiplos do segmento imobiliário, que são mais baixos.
— No curtíssimo prazo, os investidores vão ficar mais exigentes com os indicadores e com a comprovação do potencial e da solidez do negócio no tempo. No médio e longo, será um novo padrão. Vai ser mais difícil de captar, não vamos ter mais rodadas de R$ 1 milhão a R$ 5 milhões sem que haja muita segurança. O menor impacto será nos fundos de corporate venture capital (espécie de fundos criados por empresas para investir em startups e outros negócios de maior risco).
Um efeito colateral, especula, deve ocorrer na "galera da TI". Em algum momento, os altos salários dos desenvolvedores - que chegam a R$ 50 mil no Brasil - devem mudar.
— Hoje, ter uma startup é como antes as crianças quererem ser astronautas ou jogadores de baseball ou basquete. As maiores empresas do mundo surgiram de startups. Esse não interesse não vai mudar. Os jovens vão continuar a querer estudar tecnologia, robótica, programação. Vai ter muita startup, mas não vão valer bilhões.