Depois que o comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) fez o esperado e diminuiu a intensidade da calibragem do juro - apertando em mais 0,25 ponto básico para conter a inflação, ficou mais difícil esperar surpresa do Banco Central (BC). É bom lembrar que, antes da crise dos bancos, a expectativa de aumento por lá era de 0,5 ponto.
Mas se a decisão de manter a maior taxa real do mundo e a Selic em 13,75% não espantou o mercado - havia consenso de que não haveria corte - o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) surpreendeu ao não esboçar sequer um sinal de alívio futuro.
Se não foi duríssimo, com recados pontudos, como o anterior, o comunicado não fez qualquer concessão aos apelos por redução na taxa. Reconheceu que "desde a reunião anterior do Comitê de Política Monetária (Copom), o ambiente externo se deteriorou", com "episódios envolvendo bancos nos EUA e na Europa elevaram a incerteza e a volatilidade dos mercados e requerem monitoramento. Mas contrapôs que "dados recentes de atividade e inflação globais se mantêm resilientes e a política monetária nas economias centrais segue avançando em trajetória contracionista".
E além de não fazer nem aceno às pressões de baixa, agora são reforçadas pelo setor produtivo, o BC ainda achou conveniente repetir a ameaça de alta: "O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado". Que coisa. O único ciclo que pode ser retomado é o de alta.
A manutenção da Selic nesta reunião era consenso, mas nos últimos dias cresceram as apostas de que o início do famoso ciclo de baixa não está longe. Vozes importantes do mercado começam a projetar expectativa de que o primeiro corte viesse em 3 de maio ou, no máximo, em 21 de junho. Claro, se a inflação começar a baixar. Não se espera cortes abruptos, mas decisões cautelosas, que não coloquem a Selic em terreno expansionista, apenas reduzam o nível de restrição.
Mas sem possibilidade aberta no comunicado, esse horizonte pode ficar só no esboço. É bom lembrar que uma das melhores chances de fazer pressão efetiva sobre o BC foi perdida com os sucessivos adiamentos na apresentação do marco fiscal. Com regras sólidas para conter a expansão da dívida, ficaria claro que a política monetária não seria a única responsável por frear a inflação. E isso a tomar a decisão que, a essas alturas, é desejada por quase todos.
Também é bom lembrar a maioria dos economistas consultados pelo Boletim Focus prevê corte de 1 ponto percentual neste ano, já que projeta Selic em 12,75% até dezembro. Podem ser dois cortes de 0,25 e um de 0,5 ponto, dependendo do grau de cautela do Copom. Mas é preciso lembrar, também, que o Brasil começou a elevar sua taxa básica muito antes do que os demais países - até por tê-la levado ao mínimo histórico de 2% ao ano.
E se a pressão interna vai aumentar, é possível que o BC tenha também motivações externas. Embora o presidente do Fed, Jerome Powell, tenha afirmado nesta quarta-feira (22) que não se deve esperar cortes neste ano, no mercado circulam apostas de início do ciclo de baixa em meados deste ano. Se o Fed começar a cortar por lá, vai ser difícil explicar porque não fazer o mesmo por aqui.