Em dia em que a bolsa chegou a cair mais de 2%, para depois fechar com recuo menor, de 1,2% - graças à confirmação de alta de juro limitada a 0,25 ponto percentual nos Estados Unidos - a queda que chamou atenção foi a da Ambev, de 3,23%. A empresa é comandada pelo mesmo trio de acionistas de referência das Americanas.
O motivo foi uma informação dada pela Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), que representa pequenas cervejarias, de que a gigante nacional "pode" ter dívidas com impostos federais, estaduais e municipais estimadas em R$ 30 bilhões.
O dado foi citado pela revista Veja e provocou estragos na cotação. No meio da tarde, as ações ordinárias (com direito a voto) da Ambev acumulavam queda de 3,5% - o terceiro maior na bolsa. A Ambev publicou nota afirmando que a hipótese "não tem embasamento" e que calcula todos os créditos tributários estritamente com base na lei. Sustenta que suas "demonstrações financeiras cumprem todas as regras regulatórias e contábeis, as quais incluem a transparência do contencioso tributário".
O problema é que, até a bombástica revelação de Sergio Rial no dia 11, a Americanas também era considerada modelo em demonstrações contábeis. A hipótese de que outras companhias controladas pelo 3G tivessem problemas semelhantes circulava há dias no mercado. Até agora, porém, não passava de um rumor. Em tese, ainda é. Só que a quebra de confiança em uma das empresas agora ameaça contagiar outra.
Analistas veem riscos potenciais à Ambev com uma reforma tributária que venha a eliminar incentivos fiscais associados ao pagamento de proventos da companhia, ou seja, remuneração de acionistas e cotistas em ações, fundos imobiliários e outros títulos de mercado.
O 3G não controla diretamente a gigante brasileira de bebidas, que produz 27 bilhões de litros de bebidas em 18 países das Américas. O site de relações com investidores não detalha a fatia, mas informa que a Interbrew International e a AmBrew, ambas subsidiárias da Anheuser-Busch InBev, detêm em conjunto 71,5% do capital social votante da AmBev.
O que é a 3G Capital
É uma empresa de investimento no modelo private equity, ou seja, que compra fatias de negócios para permanecer como acionista por prazo longo. Além das Americanas, um dos primeiros negócios dos fundadores Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira, controla negócios de alcance global, como indústria de bebidas multinacional AB-Inbev - que inclui a nacional Ambev -, e as empresas de alimentos Kraft-Heinz e Burger King.