Durante a campanha, o que chamou atenção foi a calmaria do mercado financeiro, que se comportou como se o resultado da eleição fosse indiferente. Candidatos conhecidos, cenário externo mais conturbado e expectativa que que ninguém fizesse "bobagem" na economia formaram o cenário de um período eleitoral muito diferente do que antecedeu a primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, que levou o real à menor cotação até hoje, considerada a inflação.
Em compensação, o primeiro dia útil do novo governo registrou forte reação na bolsa em geral - e em particular em ações de estatais, o que sinaliza reação ao poder - e no dólar.
Não faltam comentários de que não houve reação negativa a movimentos do governo anterior, o que não é verdade, como a coluna já registrou. Houve até comentário do então ocupante do Planalto sobre o mercado ficar "irritadinho por qualquer coisa". Apesar de todo o estresse iniciado ainda na fase de transição, o câmbio ainda não chegou nem perto do recorde dos quatro anos anteriores, de R$ 5,901, na época também afetado pelas incertezas da pandemia.
Outra queixa comum em relação ao mercado é o fato de que não reage a indicadores sociais e ambientais, como fome, desemprego ou desmatamento. Nesse caso, é verdade - ao menos até agora. Embora estejam "na moda", as práticas ESG (governança corporativa, social e ambiental) não provocam fortes oscilações de ações e do câmbio. Também não reage a situações constrangedoras sem impacto econômico direto, como ter integrantes do primeiro escalão relacionados a milícias, seja no governo A ou no governo B.
Então, o mercado é só especulação? Existe, de fato, muita operação de bolsa, câmbio e até em juros futuros comandada por especuladores, aos quais importa apenas ganhar muito dinheiro, até mesmo quando a situação econômica piora, porque existem mecanismos que permitem lucrar com queda na bolsa e alta no dólar - as faces mais visíveis.
Mas essa não é a regra. Empresas usam a venda de ações para financiar seu crescimento e a geração de empregos. Quando a bolsa cai, as condições para fazer esse tipo de movimento ficam mais difíceis. Compõem o mercado, ainda, muitos gestores de investimentos que precisam apresentar resultados a fundos de aposentadoria que buscam a chamada "renda variável".
Nesta sexta-feira (6), dia da primeira reunião ministerial do novo governo, a bolsa abriu em leve alta e oscilou para baixo durante a primeira fala do presidente no encontro. Aos 108,9 mil pontos, praticamente recuperou as fortes quedas dos dois primeiros dias de forte estresse (na quinta-feira passada, dia 29, quando houve o último pregão de 2022, havia fechado em 109,7 mil pontos). O dólar recua 0,7%, para R$ 5,314.