O encadeamento dos fatos permite pouca margem para dúvida: nesta quinta-feira (8), Fernando Haddad, considerado o candidato favorito para o Ministério da Fazenda, participou de reunião do grupo de Economia da transição com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Não apenas fez questão de ser visto, deu entrevista coletiva.
Em seguida, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, confirmou que na sexta-feira (9), às 10h45min, haverá anúncios para o ministério do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Para lembrar, está confirmada a divisão do superministério de Guedes em três: Fazenda, Planejamento e Gestão e Indústria e Comércio.
É tudo especulação? Não, é um roteiro ensaiado: Lula levou Haddad para sua primeira viagem internacional - para a COP27, no Egito, e para Portugal -, pediu que o representasse em almoço com banqueiros - que personificam o o mercado financeiro -, embutiu no GT da Economia depois de formado. Ao indagar de aliados de Lula porque ele não indica logo o ministro da Fazenda que o mercado tanto cobra, a coluna ouviu como resposta:
– Ele está indicando um pouco a cada dia.
É possível que Haddad não seja indicado formalmente amanhã? Sim. É possível que Haddad não seja ministro da Fazenda? Sim, também. Mas a probabilidade é baixa. De outro aliado, a coluna ouviu que Lula gosta tanto de dar sinais para preparar o terreno quanto de confundir a plateia com manobras arriscadas. Então, até não estar anunciado, é bom manter a cautela. E ao responder a perguntas da imprensa, Haddad já vestiu o figurino ministerial:
– O maior mérito desta PEC é que a solução está sendo política. Quase todos os partidos aprovaram, não houve clivagem (divisão) partidária. As pessoas estão compreendendo que o orçamento do ano que vem não pode ser menor que o deste ano. Procuramos passar o conceito de neutralidade fiscal, ou seja, despesa como proporção do PIB de 2023.
A bolsa, que trafegava no patamar de 109 mil pontos, caiu abaixo dos 108 mil depois que Haddad deu entrevista, em mais um sinal de que vai para o cargo. Analistas confirmam que foi uma reação, não uma coincidência. No final do dia, Ibovespa fechou com queda de 1,67%, para 107.249 pontos. O dólar encerrou com relativa estabilidade (+0,2%), em R$ 5,216.
E não foi só Haddad: comentários do coordenador dos grupos temáticos da transição, Aloízio Mercadante, sobre a "maximização da capacidade de refino" contribuíram para entortar a linha do Ibovespa. É diferente da construção de novas refinarias, mas já provoca sustos.