A notícia foi publicada pela agência Reuters e pelo jornal El Cronista (veja clicando aqui ou confira a página bem abaixo), especializado em economia: o BNDES vai entrar com US$ 689 milhões no financiamento de um gasoduto na Argentina, no projeto Vaca Muerta de extração de gás e óleo de xisto (shale gas e shale oil).
A informação é surpreendente porque o presidente Jair Bolsonaro sempre criticou duramente os financiamentos do BNDES a outros países, embora tenha se referido várias vezes a "avanços para trazer gás da Argentina para nós", como fez na Confederação Nacional da Indústria (CNI) em junho passado (clique aqui para ler a declaração original).
A coluna consultou o BNDES e recebeu a seguinte nota:
"O governo argentino, por meio de sua embaixada em Brasília, e empresas brasileiras entraram em contato com o BNDES e com o Ministério da Economia em consulta sobre eventual financiamento à exportação de bens brasileiros. Não há pedido formal de financiamento protocolado no BNDES."
A possibilidade é de que o BNDES analise uma operação na linha chamada Exim, que financia a exportação de produtos e serviços brasileiros. Nesse caso, receberiam empréstimo fornecedores nacionais para a construção do gasoduto. A coluna voltou a indagar sobre essa hipótese ao BNDES, que respondeu assim:
"Como não há pedido formal, não temos como detalhar mais."
Quem fez grande esforço para construir esse caminho, como a coluna registrou, foi o embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli. O projeto de Scioli, que chegou a voltar à Argentina para assumir o Ministério do Desenvolvimento Produtivo mas retornou à embaixada, passa pelo Rio Grande do Sul, via Uruguaiana.
A fonte citada nas notícias da Reuters e do El Cronista é a secretária de Energia da Argentina, Flavia Royon. A informação sobre recursos do BNDES consta, inclusive, no site oficial da secretaria (clique aqui para ler, e a coluna traduz o trecho da declaração para faciltar):
— Demos início à construção do Gasoduto Presidente Néstor Kirchner em seu primeiro trecho, que permitirá aumentar a produção de Vaca Muerta e ampliar a capacidade de transporte de gás em 30% e nos permitirá reduzir US$ 2 bilhões em importações. Além disso, conseguimos financiamento de US$ 689 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento do Brasil (sic) (BNDES) e de outros US$ 540 milhões da CAF para o segundo trecho.
A primeira etapa do gasoduto ligará Vaca Muerta, na província de Neuquén, ao entorno de Buenos Aires, com previsão de conclusão no primeiro semestre de 2023. A CAF, que tem essa sigla por ter origem na Corporación Andina de Fomento, hoje é chamada de CAF - Banco de Desenvolvimento da América Latina (antiga daí a sigla). Vaca Muerta é considerada a segunda maior reserva de shale gas do mundo - só atrás dos Estados Unidos - e quarta maior em shale oil.