Mesmo com a disposição do governo argentino de ressuscitar o ambicionado gasoduto Uruguaiana-Porto Alegre, reapresentado ao governo brasileiro pelo novo embaixador no país, Daniel Scioli, o ceticismo ainda ronda o projeto que exigiria invesetimento de US$ 3,7 bilhões (quase R$ 20 bilhões, em valores atuais).
Rivaldo Moreira Neto, diretor da gaúcha Gas Energy, especializada no segmento, vê "muita dificuldade em garantir a viabilidade desse projeto". Entre os motivos, aponta a permanência dos problemas que freiam o avanço há duas décadas e o surgimento de novas alternativas, como o gás do pré-sal e o menor custo do gás natural liquefeito (GNL).
– É uma discussão que vem de 20 anos, mas o problema fundamental permanece, e talvez tenha ficado mais evidente agora. É um gasoduto de alguns bilhões de dólares, que precisa de uma solução de financiamento que não virá do governo de nenhum dos dois países – observa.
Essa situação abre duas interrogações fundamentais sobre como permitir que o custo seja suficientemente atrativo para permitir um volume de contratos de compra futura que permitam um investimento desse tamanho, argumenta Moreira Neto:
– O investidor não será nem o governo argentino, nem o brasileiro, nem uma estatal. A conclusão é de que precisa uma solução de mercado. E aí vem um segundo problema, que esse gasoduto só encontrará demanda na ponta final, em Porto Alegre. E aí há alternativas que podem brigar pelo mercado.
Entre as opções, estão vários projetos baseados em GNL, entre os quais o previsto para Santa Catarina, e a oferta de gás do pré-sal, que deve ter alta substancial nos próximos dois a três anos.
– Olhando o mercado brasileiro, e mesmo o do Rio Grande do Sul, é difícil enxergar a viabilidade do gasoduto, seja pelo alto investimento, seja pelo ritmo. Pode levar muitos anos para ficar pronto. Há soluções que vão chegar mais rapidamente e com custo menor do que o gasoduto.
Mesmo o gás de Vaca Muerta pode ser usado de forma diferente, sugere Moreira Neto. A Argentina já começou a liquefazer o gás para vender os excedentes no verão e pode intensificar esse projeto, fazendo com que o combustível liquefeito seja transportado por navios até um terminal no Rio Grande do Sul. O gás em seu estado natural ocupa muito espaço para ser transportado, mas com uso de pressão e temperatura pode ser transformado em líquido e levado em embarcações específicas.
– Os americanos entraram de fato vendendo GNL a partir de shale gas só no ano passado e provocaram redução nos preços. Se há soluções alternativas, vai ser difícil que o mercado dê prioridade a uma solução para suportar um investimento desse tamanho no tempo que vai precisar – afirma o especialista.
E embora a "questão política" não costume ser debatida abertamente, Moreira Neto pondera que há uma desconfiança muito forte sobre os dois países.
– A Argentina tem ambiente muito instável, com vários ciclos, e não oferece uma visão clara de longo prazo. Um projeto como esse demanda confiança de lado a lado, e a Argentina já quebrou contratos no passado, quando suspendeu as exportações para abastecer a usina de Uruguaiana.