Vencida a fase que envolveu de canibalismo a satanismo, a reta final da campanha à Presidência trouxe enfim questões econômicas ao debate. Segundo as campanhas e as autoridades, os temas que frequentam programas e inserções eleitorais são fake news.
São falsas, mesmo?
Na tentativa de ajudar a entender o contexto dessa troca de acusações de "maldades", a coluna - que já levou pito de economista por usar essa expressão para o sempre necessário corte de gastos - detalhou os desafios na receita e na despesa que esperam o presidente eleito ou reeleito em 2023.
Em alguns casos, fake news são old trues (expressão inventada para se referir a "verdades antigas"). É o caso do plano do ministro da Economia, Paulo Guedes, de retirar gastos com saúde e educação das deduções permitidas no Imposto de Renda, que existe desde agosto de 2020 (clique aqui para ler notícia da época).
Outras não são fake, mas foram distorcidas na apresentação em campanhas. A ideia de desindexar o salário mínimo - em bom português, eliminar a correção automática - ganhou estudo que já considera a necessidade de desmonte das bombas fiscais espetadas para 2023. - boa parte nascidas de decisões com foco na reeleição de Jair Bolsonaro. A proposta é trocar o reajuste pela inflação passada para uma inflação futura que, obviamente, só pode ser adivinhada.
Tanto não é fake que, em nota distribuída pelo Ministério da Economia, o argumento é de (ainda) não tem o carimbo de Guedes: "supostos estudos, análises, ensaios, opiniões e outros tipos de trabalho eventualmente produzidos pelas áreas técnicas não podem ser incorretamente confundidos com propostas do ministério ou do ministro sem que tenham sido chancelados por ele" (leia o original clicando aqui).
Outra afirmação que não é fake é a de que Luiz Inácio Lula da Silva vai extinguir o teto de gastos. Não só está escrito no programa enviado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como o candidato já reafirmou várias vezes em entrevistas, debates e lives. A coluna ouviu falar pela primeira vez em "waiver", ou seja, em licença para gastar, em uma entrevista com um dos formuladores do programa da chapa Lula-Alckmin, ou seja, direto da fonte.
Também não é fake que um eventual governo Lula 3 voltará a usar bancos públicos e a Petrobras como "indutores do desenvolvimento". Isso está escrito na"Carta para o Brasil do amanhã", mais recente documento público da campanha (confira o original aqui), que animou e desanimou o mercado financeiro em tempo recorde na quinta-feira (28).
Então não tem fake na economia? Existem, sim, e muitas. Mas há várias verdades, que não mais do que propostas que não rendem ou até afugentam o voto. Aí, é mais fácil dizer que é fake. E se depois virar medida, a desculpa está pronta: a realidade impôs.