Day after de um primeiro turno em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve 48,43% dos votos e Jair Bolsonaro (PL), 43,2%, esta segunda-feira (3) foi dia de mercados animados em várias latitudes. A bolsa de Nova York, principal referência no Brasil, subiu 2,7%, alta inusual.
Mas nada se compara ao salto de 5,5% da bolsa brasileira, acompanhada da queda de 4,09% do dólar, para R$ 5,174. Foi uma exceção, depois que o primeiro turno pouco mexeu com os humores de investidores e especuladores?
Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, o tamanho da reação tem relação com o dia positivo no Exterior, em especial em Nova York, mas o multiplicador está relacionado ao resultado "mais apertado do que se esperava" na eleição presidencial, com diferença de apenas 5,2 pontos percentuais:
– O mercado interpretou que a chance de Bolsonaro ganhar é real, portanto a política econômica do Guedes deve continuar, até mais conservadora no controle de gastos, porque tudo o que precisava ser feito para a releição já foi feito. A nova composição do Congresso também ajuda no que o governo Bolsonaro tem de expectativa, de reforma administrativa e tributária. Mas também pesou favoravelmente para que, em um eventual governo Lula, não será tão fácil aplicar políticas heterodoxas como fazer as estatais voltarem a ser protagonistas, como prevê o programa do candidato.
Embora o consenso no mercado seja de que a eleição para o Congresso representa uma espécie de "seguro antichoque", um analista que pediu para não ser citado só porque ainda não alinhou a posição em reunião interna ponderou à coluna que a baixa nos juros futuros embute, sim, uma expectativa de vitória de Bolsonaro. Lembra que, se antes o mercado já não antevia uma grande guinada com qualquer resultado para a Presidência, com essa composição do Legislativo, vale o "tanto faz como tanto fez".
O movimento fez várias ações subirem dois dígitos nesta segunda-feira (3). A maior alta foi a da estatal paulista Sabesp, que saltou 16,94% diante da vantagem de Tarcísio de Freitas (PR) ante Fernando Haddad (PT) em São Paulo. Na leitura do mercado, cresce a possibilidade de privatização da companhia de saneamento. Também decolaram dois dígitos duas aéreas, Gol (12,54%) e Azul (11,35%), além de outra estatal, a mineira de eletricidade Cemig (10,69%) e a Ecorodovias (10,66%).
Felipe Simões, diretor da WIT (de Wealth, Investment & Trust) Asset, afirma que o mercado havia precificado uma vitória de Lula no primeiro turno. Como isso não ocorreu, embora uma vitória de Bolsonaro seja ainda difícil, é menos improvável. Cita que probabilidade de vitória do petista projetada pela Eurasia, respeitada consultoria de risco, caiu de 70% para 65% depois do primeiro turno:
– O Congresso, do jeito que ficou, não vai deixar fazer loucura muito grande, como grandes gastos ou furar o teto o tempo inteiro.