Poucos gaúchos ficaram imunes aos vídeos com diversas reinterpretações de cenas do seriado de TV Chaves que repetiram um dos diálogos do debate eleitoral, que teve na quinta-feira (27) à noite sua última versão na RBS TV.
Os mais elaborados chegaram a substituir os rostos dos atores que interpretam os papéis. O tema era o Regime de Recuperação Fiscal, e Eduardo Leite (Girafales) tentava obter, sem sucesso, uma resposta de Onyx Lorenzoni (Chaves).
Foi um sucesso, inclusive por forçar a retomada de um debate que interessa a todos os gaúchos: a dívida que precisou ser renegociadas não é "do Estado". Cada um de nós, com a parte de impostos que pagamos, é que bancamos essas parcelas. Mas o êxito também cobrou seu preço: na tentativa de reeditar algo semelhante, Leite cansou a audiência com perguntas que julgava irrespondíveis.
O momento mais intenso envolveu o episódio em que Onyx fez um acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), em 2020, em troca do "perdão" por receber recursos sem declarar em campanha eleitoral. Ao insistir tanto em perguntar "quantas vezes cometeu o erro de usar dinheiro de caixa 2" - sem nunca ser respondido -, Leite perdeu tempo precioso e desperdiçou a paciência do eleitor já em exaustão cívica.
Não que o adversário não tenha feito o mesmo. Onyx sabe, porque inclusive está escrito em seu programa de governo, que o Plano de Promoção de Equilíbrio Fiscal (PEF) não é uma alternativa factível. No texto enviado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), citado pela coluna no início do segundo turno, afirma que "afirma "iremos cumprir o acordo assinado pelo governo atual". Sobre a “opção”, observa apenas que o Estado "deveria ter aderido" ao PEF. Se realmente acreditasse na possibilidade, não teria proposto a mudança no plano?
Infelizmente, o Estado passou do ponto da busca de equilíbrio fiscal. Embora a comparação seja muito imprecisa, para facilitar o entendimento seria algo como poder "escolher" entre a recuperação judicial e a falência. E por mais que a renegociação pudesse ter melhores bases, não é responsabilidade única do candidato do PSDB. Muitos governos contribuíram para a dívida do Rio Grande do Sul, inclusive os formados por aliados que Onyx costuma citar.
Além disso, o candidato do PL usa jargão técnico para combater a impressão de falta de informação no debate que gerou o meme. Mas até porque o nome é feio, mais confunde do que esclarece ao falar em "anatocismo". Parece até algo meio criminoso - e há correntes políticas e econômicas que defendem que seja -, mas é apenas o mecanismo pelo qual todos os brasileiros se financiam, pagando os famosos "juros sobre juros", ou seja, incluindo o custo do empréstimo no saldo devedor. Não é uma opção, muito menos criminoso, na letra fria da lei. É como funciona todo o sistema financeiro do país.