A coluna já abordou a expectativa sobre o quanto da militância ambientalista o rei Charles III aplicará ao cumprir seu papel de chefe de Estado do quinto país mais rico do mundo, destacando sua crítica a quem fala muito, mas pouco faz.
Ele pode reclamar, porque é ambientalista há décadas, muito antes que os constantes alarmes sobre mudanças climáticas tornassem o tema obrigatório para quem pensa sobre seu país e o nosso mundo.
As práticas ambientais de Charles III já foram vistas como uma de suas "esquisitices" - algumas ainda são. Mas hoje lhe dão a confortável posição de referência, em contraponto ao desconforto relacionado à dívida econômica e moral com as colônias do que foi o "império onde o sol nunca se põe".
Um dos episódios mais rumorosos sobre as "esquisitices ambientais" de Charles foi uma entrevista em que afirmou que seu Aston Martin de 50 anos (reuse) era abastecido com "vinho e queijo". Na prática, o veículo foi adaptado para funcionar com 85% de bioetanol - incluídos aí subprodutos da produção vinícola e soro de leite que é resíduo na fabricação de queijo - e 15% de gasolina sem chumbo.
Até republicanos de carteirinha e anticolonialistas de coração reconhecem que Charles se esforça em ter propriedades sustentáveis. Os fornecedores passam por uma peneira ética, papel picado, vidro, latas e cartuchos de impressora são reciclados, há reaproveitamento de água da chuva e biodigestores. Mas é em Highgrove que ele tem uma fazenda de orgânicos que vende produtos com a marca Duchy Originals (clique aqui para saber mais), que geram milhões de libras em vendas para seus projetos de caridade. Além de alimentos, há móveis e cosméticos. Os veículos são abastecidos com biodiesel, a produção de laticínios conta com geração solar e não são usados fertilizantes a base de nitrogênio.
Em 2020, a associação beneficente do então príncipe lançou uma coleção de moda luxuosa e sustentável. Ao comentar a iniciativa, Charles disse que "odeia jogar coisas fora" e prefere consertar suas roupas a descartá-las. Claro, roupas com a qualidade que ele têm condições de comprar.
O agora rei já disse que "ao colocar o pedestre em primeiro lugar, você desenvolve esses locais habitáveis, eu acho, com mais atração, interesse e personalidade". Mas suas ideias quase utópicas sobre urbanização também geram críticas por ficarem muito longe da realidade da maioria dos humanos.
Apesar de todo esse pendor para a sustentabilidade, Charles é um adversário aberto da energia eólica. Por identificar algum problema ambiental na cadeia ou na implantação? Não, porque cria, na sua opinião, uma "horrível mancha na paisagem".