A expressão "rainha da Inglaterra" se popularizou como sinônimo de alguém que tem cargo e não manda nada. Mesmo assim, a transformação do príncipe em rei Charles III, chefe de Estado de um dos países mais ricos do mundo, cria expectativas sobre como vai se comportar esse militante ambientalista com ainda maior proximidade com o poder.
A chegada tardia ao trono, aos 73 anos, abriga também oportunidade histórica: nunca se falou tanto sobre a questão ambiental nos círculos do poder.
Mas, como observou Elizabeth II em um de seus raros comentários políticos "é realmente irritante quando falam, mas não agem". Não é difícil saber quem inspirou a frase captada "por acidente" (como se o protocolo monárquico permitisse esse tipo de casualidade).
Dias antes, em outubro de 2021, Charles havia dado uma entrevista à BBC dizendo que entendia a frustração de ativistas como a sueca Greta Thunberg, que acusa políticos de não agirem diante da emergência climática. Reforçou que também temia que os líderes mundiais "se limitassem a falar" na COP26, em Glasgow, ponderando:
— A dificuldade está em lidar com essa frustração de forma construtiva, não destrutiva.
A provável agenda mínima de Charles III será fazer do Palácio de Buckingham, seu novo "escritório", um edifício neutro em carbono, como já são todos seus demais imóveis, rurais e residenciais. Pode ser pouco, mas terá um enorme efeito de pressão sobre os demais defensores do ambiente mais no discurso do que na prática.
E se iniciativas de Charles como príncipe tinham atenção limitada, como a Terra Carta, lançada no início do ano passado, terão outra visibilidade como rei. O documento é ambicioso, inspirado na Magna Carta de 1215, que limitou o poder dos monarcas da Inglaterra. Seu objetivo é criar um plano de recuperação da natureza, das pessoas e do planeta com investimento privado de US$ 10 bilhões até 2023.
Desde 2007, Charles mantém uma organização não governamental (ONG), chamada The Prince’s Rainforests Project (Projeto do Príncipe para Florestas Tropicais). A ONG trabalha com governos, empresa e outras organizações para buscar soluções para o desmatamento, usando o mote que acabou de ecoar no Brasil no Dia da Amazônia: fazer com que árvores tenham mais valor vivas do que mortas. Agora, o chefe de Estado do quinto país mais rico do mundo quer salvar a Amazônia. Viva o rei!