Empresas e instituições se uniram a fim de estruturar ações-chave para desenvolver o mercado voluntário de crédito de carbono no Brasil. São elas: Amaggi, Auren, B3, Bayer, BNDES, CBA, Dow, Natura, Rabobank, Raízen, Vale, Votorantim e Votorantim Cimentos.
Sócio e líder da prática de sustentabilidade da McKinsey & Company, Henrique Ceotto comenta o que a iniciativa que junta grandes empresas para destravar o mercado de carbono no país pretende entregar nos próximos meses para mitigar barreiras e gerar mecanismos de ativação da oferta e demanda de alta integridade e ações de governança.
A descarbonização da economia até 2050 é uma prioridade para diversos países, que representam mais de 90% do Produto Interno Bruto (PIB) global, e para mais de 2,5 mil empresas. O mercado voluntário de carbono é parte do conjunto de soluções para a descarbonização da economia global e tem duas principais funções: a mitigação das emissões de gases de efeito estufa durante a jornada para o carbono zero (“net zero”); a partir daí, os créditos de carbono assumirão o papel de captura de emissões difíceis de serem abatidas.
Qual é a proposta?
Há dois tipos de mercado de carbono. O regulado, que é o tema de um decreto que passou pelo governo e o voluntário, que é o que as companhias que se comprometeram com a descarbonização usam para acelerar esse processo e até chegar à neutralidade antes com os créditos. O nosso trabalho é focado nesses mecanismos voluntários em que o Brasil é o país que tem o maior potencial de geração desses créditos, também chamados de offsets no mundo. Se avaliarmos só as soluções naturais, como reflorestamento, carbono em solo na agricultura, conversão de metano para gás carbônico (gerando energia), o país tem 15% do potencial global, mas explora menos de 1% disso. É um mercado muito pequeno, que gerava em torno de US$ 200 milhões há três anos. No ano passado atingiu quase US$ 2 bilhões e a projeção é que represente até US$ 100 bilhões em 2030, multiplicando-se em 2050. É uma grande oportunidade para o país e a jornada até o net zero (compromisso de reduzir as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera).
E os créditos?
Os offsets ajudam a manter estoques de carbono na atmosfera dentro dos limites do Acordo de Paris (discutido em 2015 na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas - COP21 – em 2015 por 195 países para reduzir o aquecimento global). O objetivo é sempre a redução das emissões e, só no final, utilizar esses offsets. O objetivo da iniciativa é destravar esse potencial brasileiro e criar mecanismos para que isso ocorra. Em um paralelo com o mercado de energia renovável, percebemos que o crescimento está vinculado com legislações adequadas, estrutura de financiamento de projetos inaugurada pelo BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Social) que permitia aportes em um ciclo de investimento longo, em que primeiro se faz a infraestrutura e a receita só começa a ser gerada em sete anos. Tem-se os contratos futuros para definição de preços que retiram os riscos comerciais, ferramentas de liquidez para o mercado livre, uma empresa de economia mista (CCEE) que o regula. Ou seja, para criar um mercado de carbono no tamanho que estamos projetando, é preciso pensar nesses mecanismos. É nisso que a iniciativa foca.
Quando estará em prática?
A ideia é tornar público esses mecanismos em alguns meses até para receber críticas. Tomamos o cuidado de interagir com os entes do setor, mas, no final, é preciso abrir para consulta e pegar ainda mais contribuições. Isso deverá dar mais ajustes do que alterações estruturais, mas a ideia é que isso ocorra ainda este ano. É isso que vai escalar o mercado, na prática. O mercado já existe, mas o ano que vem será muito importante. Gostaríamos que parte dos mecanismos já estivessem ativos em 2023, mas há um processo para isso. O Brasil precisa exercer o papel e entender a grande oportunidade de criar um mercado e ajudar metas de descarbonização.