A coluna abre uma exceção para um caso que não é exatamente um negócio, até por atuar sem fins lucrativos, mas que já faz parte do patrimônio imaterial do Estado, para encerrar a Semana Farroupilha.
A Fábrica de Gaiteiros é um projeto do músico Renato Borghetti com o objetivo de ensinar crianças a tocar acordeon e difundir a cultura da música tradicional gaúcha criado em 2011.
Logo no início, a ideia esbarrou no fato de que o instrumento não era produzido no Brasil há mais de 30 anos, e importar unidades seria financeiramente inviável. Mas o que surgiu como problema se transformou em solução: a saída seria iniciar uma fabricação própria das gaitas, para então começar a "produzir" também os gaiteiros.
— É talvez a única fábrica do mundo em que o produto final não é vendido, pois atuamos sem fins lucrativos. O objetivo mesmo é ensinar a criançada a tocar e ajudar a renovar essa cultura. A gente produz os instrumentos aqui, e depois distribui para as escolas parceiras e organiza as aulas — explica Newton Grande, músico e coordenador-geral da Fábrica de Gaiteiros.
Grande foi convidado por Borghetti a trabalhar no projeto em 2014, mesmo ano em que a fábrica conseguiu se instalar em sua sede atual, um prédio histórico restaurado em Barra do Ribeiro. A fábrica hoje abriga a produção, todo cercado por vitrines que permitem aos visitantes observarem o processo de fabricação do instrumento, salas de aula e uma biblioteca.
Ao todo, o projeto tem parceria atualmente com 17 escolas, 14 no Rio Grande do Sul e três em Santa Catarina, somando 440 alunos. Em de outubro, atravessará a fronteira e começará a atuar também em duas cidades uruguaias, Tacuarembó e Treinta y Tres, depois de um acordo feito diretamente com o Ministério da Cultura do Uruguai.
O que pouca gente sabe - e a coluna conta - é que a fábrica pode ser visitada. E além de observar todas as etapas de produção do acordeon, que já soma 190 unidades, existe um museu, que conta a toda a história do instrumento e sua inserção no Rio Grande do Sul.
— O acordeon moderno foi desenvolvido por um relojoeiro alemão em 1820, e se popularizou entre viajantes, ciganos e músicos que tocavam em tabernas. Hoje é um instrumento muito popular no mundo inteiro, utilizado em países de todos os continentes. No Rio Grande do Sul, chegou com imigrantes alemães e italianos, e no encontro com os violeiros e fandangueiros locais, ajudou a formar a música tradicionalista que conhecemos hoje — ensina Grande.
O próprio Newton acompanha o público nas visitas sempre que possível. No museu, há peças como um exemplar de acordeon produzido pela fábrica a partir de um antigo projeto original do ano de 1495 do inventor italiano Leonardo da Vinci, e também outro todo transparente, onde é possível ver as mais de 1,9 mil peças do instrumento.
Para viabilizar a Fábrica de Gaiteiros, no início da operação o instituto fechou parceria com a CMPC Celulose, com sede em Guaíba. Nos últimos anos, o projeto recebe financiamento pela Lei Rouanet, que é a lei de incentivo à cultura no Brasil.
— Como não temos atuação comercial, o viés do projeto é totalmente social, educacional e cultural — destaca Newton Grande.
Serviço: a visita é totalmente gratuita. A Fábrica de Gaiteiros em Barra do Ribeiro fica aberta de quarta-feira a domingo, das 10h às 13h e das 14h às 17h. Não há, no local, venda de qualquer produto, nem de instrumentos produzidos.
Essa seção inclui experiências acumuladas ao longo da pandemia e sugestões de leitores. Quem quiser indicar pequenos negócios que se tornam grandes passeios pelas atrações que oferecem, podem mandar pelos e-mails marta.sfredo@zerohora.com.br e mathias.boni@zerohora.com.br, ou deixar aqui nos comentários.
* Colaborou Mathias Boni