O empresário Guilherme Paulus é uma referência na área do turismo no Brasil. Além de ter fundado a CVC, hoje a maior agência de viagens da América do Sul, foi proprietário da companhia aérea Webjet, até vender para a Gol em 2011, e fundador do Grupo GJP Hotels & Resorts, que também vendeu no ano passado em outro negócio milionário. Paulus excluiu dessa venda o Castelo Saint Andrews, hotel em Gramado criado pelo empresário com inspiração europeia. Em poucos dias, em setembro, o Saint Andrews servirá também como base operacional da Terroir Wine Experience, plataforma de aceleração de negócios e turismo relacionado ao vinho que está desenvolvendo em parceria com o empresário gaúcho Maurênio Stortti. À coluna, Paulus falou sobre o lançamento da nova plataforma e dos impactos da pandemia no turismo e o crescimento do enoturismo no Rio Grande do Sul.
O que mudou no turismo com a pandemia?
O crescimento do turismo regional é algo a se destacar. O impacto veio de fora para dentro, primeiro da Ásia, depois Europa, e então dos Estados Unidos, até que chegou aqui e fechou tudo. A retomada inicial ocorreu no âmbito regional, um turismo mais particular, com famílias viajando em seus carros até praias ou regiões de serra mais perto de suas cidades. Na Europa, como são vários países próximos, era mais fácil para os turistas viajarem para outros países, enquanto no Brasil essa retomada se deu com o aumento do turismo interno de cada Estado, ou nos Estados vizinhos. Depois de mais alguns meses, descobriu-se que os aviões, pela renovação do ar, também seriam seguros para viagens mais longas, e já no final de 2020 e começo de 2021, com a vacinação, o turismo aéreo voltou a crescer, com a reabertura das fronteiras. Hoje, mesmo com essa retomada do turismo aéreo e internacional, o turismo regional continua forte no Brasil, e essa tendência veio para ficar.
Como vê o enoturismo no Estado?
O enoturismo no Rio Grande do Sul está em alta hoje no Brasil. Lembro que comecei a levar turistas do centro do país para a serra gaúcha ainda na década de 1980, incluindo visitas nas vinícolas, e ainda precisávamos explicar ao público a diferença entre vinho tinto, vinho branco, vinho rosé e espumante. Eram os primórdios do enoturismo no Brasil, mas as visitas ao Rio Grande do Sul sempre foram um sucesso. Desde então, o turismo relacionado ao vinho cresceu tanto no resto do mundo, em países como Espanha, Portugal, França, Itália, Chile e Argentina, quanto no Rio Grande do Sul, com o Vale dos Vinhedos, já consagrado, e outras regiões crescendo, como a Campanha e a Fronteira Oeste. A qualidade do vinho e do espumante também aumentou, e hoje se equipara aos melhores do mundo, o que ajuda a desenvolver mais ainda o potencial turístico do setor no Estado.
Como surgiu a ideia do lançamento da plataforma Terroir Wine Experience?
O Maurênio Stortti é um parceiro de longa data, e que também entende muito de turismo e de vinhos. Visitamos vinícolas juntos, e surgiu a ideia de criação da plataforma. Desenvolvemos essa nova ferramenta digital com o objetivo de acelerar os negócios e o turismo relacionado ao vinho no Brasil, com uma grande parte das vinícolas do projeto em território gaúcho. O Rio Grande do Sul é o principal destino do enoturismo no Brasil, e também se equipara aos outros mais destacados da nossa região, em Uruguai, Argentina e Chile, tanto na capacidade e no potencial turístico quanto na qualidade dos vinhos.
Como tem respondido a operação do Castelo Saint Andrews em Gramado?
Podemos dizer que tem sido um grande sucesso. A minha inspiração para o empreendimento foram os castelos europeus, pois há muitos anos eu fiz um tour por castelos na Europa, e me marcou como alguns eram usados para hospedagem e hotelaria. O Saint Andrews, que tem a chancela Relais & Châteux, começou com oito suítes, e hoje são 23, todas muito bem equipadas e com excelente vista para o Vale do Quilombo. Em 2021 também inauguramos um residencial dentro do hotel, a Mountain House, um imóvel de alto padrão que ainda inclui o atendimento de luxo do hotel. A proposta do castelo é única no Brasil, com um atendimento exclusivo que está no nível dos melhores hotéis de luxo do mundo. Temos uma das melhores adegas do planeta, e toda sexta-feira realizamos um jantar especial com vinhos selecionados, além de outros eventos e cerimônias que realizamos no castelo para os visitantes.
Quais são os caminhos para atrair turistas estrangeiros ao Brasil?
Um fator que prejudica o Brasil nesse aspecto é a grande distância física do país para grandes centros de turistas, como Ásia, Europa e Estados Unidos. Mesmo as distâncias internas são muito grandes, uma pessoa viajando de avião do Sul ao Norte ou Nordeste pode demorar de seis a oito horas. Também temos poucos voos internacionais vindo para o Brasil. O país precisa de um trabalho mais efetivo de promoção do turismo no Exterior para aumentar a quantidade de voos charter, fretados especialmente para turismo, como se vê no México, em um destino como Cancún, que tem também a vantagem de ser vizinho de uma potência como os Estados Unidos. Hoje, a distância e a falta de um maior número de voos turísticos, que são fatores relacionados, acabam impactando no número de turistas que o Brasil recebe por ano, que mesmo assim é grande, mas realmente poderia ser maior.
* Colaborou Mathias Boni