Uma empresa gaúcha de apenas cinco anos, focada em projetos de energia solar para o agronegócio, a Phama Energia Renováveis, de Panambi, acaba de fechar duas parcerias com a Alemanha que envolvem produção de hidrogênio verde.
Os negócios vão resultar em investimentos de R$ 240 milhões no Rio Grande do Sul e em Goiás, com plantas de ureia e de amônia, que começarão a se concretizar em breve, além de futuros projetos no horizonte.
Com investimento de R$ 80 milhões da alemã Sun Farming, a unidade gaúcha será em Vale Verde, perto de Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires. A planta industrial começa a tomar forma em novembro próximo, com o início da terraplanagem para a instalação da fábrica que vai produzir 1,5 mil toneladas anuais de amônia anidra, utilizada como fertilizante. A Instalo, de Curitiba, será parceira da Phama na obra, que será detalhada pelos investidores alemães quarta-feira na Expointer.
O projeto de R$ 160 milhões em Rio Verde (GO) será financiado pelo Fundo do Clima da Alemanha por meio do Banco KfW. As obras devem começar em janeiro de 2023, produzindo fertilizante hidrogenado 74% (ureia líquida). Com intermediação de três Câmaras Brasil-Alemanha (RS, SP e RJ) e colaboração de consulados da Alemanha no Brasil, os negócios foram definidos na Feira Intersolar, realizada em São Paulo de 23 a 25 de agosto.
Luiz Paulo Hauth, diretor-presidente da Phama, explicou a coluna como nasceram os projetos. Ele tem um sócio alemão, e ambos foram convidados, há dois anos, para participar dos estudos da Alemanha para produzir hidrogênio verde no Brasil, hoje concentrado no Ceará. Como o hidrogênio é um gás, a saída para exportar com menor custo foi obter amônia líquida para o transporte em navios.
Como ocorre com os processos de gaseificação e regaseificação, no desembarque ocorre um processo de separação que devolve o hidrogênio ao estado gasoso. Segundo Hauth, essa solução permite inclusive entregar maior quantidade do gás.
Embora a aplicação mais conhecida do "hidrogênio verde" (veja todas as "cores" abaixo) seja em mobilidade, há outras rotas, detalha o empresário. Na fase de estudos, Hauth descobriu que fabricantes japoneses tinham equipamentos menores, que permitiram produção descentralizada, em menor escala. Nesse caso, a produção de hidrogênio verde vai usar energia fotovoltaica, enquanto a sintetização de amônia retira dióxido de carbono.
– Um hub com capacidade para produzir 5 mil toneladas de fertilizante nitrogenado vai deixar de emitir 11 mil toneladas e capturar 4 mil toneladas de CO2 por ano, então terá um balanço de carbono negativo de 15 mil t/ ano – diz Hauth.
Claro, além de reduzir a dependência do Brasil da importação de fertilizantes, o projeto também já prevê o aproveitamento de créditos de carbono. Segundo Hauth, no mercado regulado, uma tonelada está cotada a R$ 386. Por enquanto, o Brasil não é signatário desse mercado, o que está em processo. No mercado voluntário, do qual o Brasil faz parte, a cotação é de cerca de R$ 100.
Além disso das soluções ambientais e econômicas que embute, o projeto tem viés social, como costuma ser feito Alemanha: os módulos de captação de energia solar serão elevados em relação ao solo, para permitir o cultivo orgânico de hortaliças, frutas e plantas medicinais sob as placas.
– O projeto no Rio Grande do Sul vai ser muito bacana, e deve ser o primeiro de cinco ou seis no Brasil - adianta Hauth.
Conforme a Câmara Brasil-Alemanha do Rio Grande do Sul (AKN-RS), o Eco Agro Solar Park Vale Verde será o primeiro projeto de hidrogênio verde em operação no Estado e, nessa categoria, também no Brasil.
Todas as "cores" do hidrogênio
É claro que, fisicamente, o hidrogênio é um gás que, como a água, não tem cor, cheiro ou sabor, como a água. O que garante o "apelido" cromático é a forma de obter esse gás, a partir de um processo conhecido como eletrólise, que exige grande quantidade de água e de eletricidade. Há expectativa de que seja uma nova fonte de energia para veículos, mas também pode ser usado para alimentar prédios e unidades industriais, assim como para calefação, essencial no inverno do Hemisfério Norte.
Verde: é o hidrogênio produzido com fontes de energia limpas e renováveis.
Cinza: produzido a partir de fontes fósseis, como petróleo, gás natural e carvão.
Azul: quando é produzido por fontes fósseis, mas inclui processos de captura e armazenamento de carbono.