O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) apontou que o preço médio do etanol hidratado (vendido nos postos de abastecimento) caiu em 24 Estados e no Distrito Federal na semana passada. As únicas altas aconteceram no Rio Grande do Sul e em Roraima. A mesma base de dados revela que o valor mínimo por litro foi encontrado no Mato Grosso (de R$ 3,530) e o máximo, outra vez, ficou por conta dos postos gaúchos (R$ 7,890).
Não é difícil entender as razões pelas quais isso acontece, mas, sobretudo, os possíveis efeitos para a formação de custos nos demais combustíveis. O primeiro motivo é o baixo consumo do etanol hidratado, que é aquele vendido nas bombas dos postos. Em maio, último dado disponibilizado pela ANP, foi de apenas 2 milhões de litros. Para se ter uma ideia, a demanda por gasolina bateu em 282 milhões de litros em igual período.
Tanto no consumo quanto no preço, o que pesa é a produção praticamente inexistente de etanol por aqui. Conforme explica o ex-Superintendente de Abastecimento da ANP e economista-chefe da consultoria ES PETRO, Edson Silva, o etanol hidratado e o anidro (que é misturado à gasolina) são comprados de outros Estados (PR ou SP).
– O preço entregue pelas usinas tem um custo de frete elevado e implica em uma logística que nem toda a rede de postos consegue dispor, pois é preciso que o posto busque o etanol, mas suba de volta levando algum produto. Do contrário, paga-se para voltar vazio – comenta Silva.
O economista lembra que o clima gaúcho não é propício ao plantio de cana de açúcar, a principal matéria-prima de produção. Também não é autossuficiente em milho, que seria a alternativa imediata mais em conta.
– O governo do Rio Grande do Sul adotou um programa chamado pró-etanol, que estabelece estímulos ao setor. É recente, e, mais adiante, pode dar resultado. O problema é que não há escala para uma grande produção que impacte os preços no futuro, de forma que o Estado parece condenado a ser um importador de Etanol com preço acima dos demais – argumenta.
Como consequência, no etanol hidratado o preço não é tão relevante, porque o consumo só se torna atrativo quando equivale a 70% do valor da gasolina. No mês passado, foi de 94% na média do Brasil, e de 95,9% no Rio Grande do Sul.
Para o etanol hidratado, comenta Edson Silva, o substituto seria a própria gasolina. Agora, na gasolina, que necessita de 27% do etanol anidro (e o Rio Grande do Sul precisa importar), os custos mais elevados tendem a impactar, outra vez, os custo nos postos gaúchos.
O problema é que a relação preço médio diesel/gasolina (que mede o quanto o preço do primeiro representa no preço do segundo) chegou a 126,3%, na média nacional, e a 126,4% no RS. Isto é, o diesel foi vendido no país a um preço médio 26,3% maior que o da gasolina, e a 26,4% no Rio Grande do Sul.
Essa relação tem forte impacto na formação de preços de produtos e serviços da economia, dada a importância do diesel na produção e movimentação das mercadorias. Como houve uma queda no preço da gasolina, em razão das medidas, essa proporção tende a aumentar e impactar em escala maior a formação de preços no Estado.
* Colaborou Mathias Boni