Nesta que foi a quarta alta, desde março, o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, voltou a subir a taxa de juros em 0,75 ponto percentual, mesmo nível estipulado na reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) em maio. Diferentemente daquela ocasião, desta vez não houve surpresas com o novo patamar que mantém o aperto pretendido para conter a inflação daquele país, que já rompe a barreira dos 9% no acumulado de 12 meses.
Essa movimentação na política monetária da maior economia do mundo não passa incólume pelas demais, sobretudo pelo Brasil, que hoje tem a oitava maior inflação dentre as principais economias do planeta (11,89%), atrás de Turquia (78,62%), Argentina (64%), Nigéria (18,60%), República Tcheca (17,20%), Rússia (15,90%), Polônia (15,50%) e Chile (12,50%), segundo relatório da consultoria internacional Refinitiv.
Por aqui, sabe-se que uma parte da desorganização é interna. Está relacionada com a alta dos combustíveis e da energia elétrica – agora, no alvo de uma série de ações para retirada de tributos – e também nos alimentos. Outra parcela está ligada ao cenário externo, provocada pela injeção de recursos extras nas economias nacionais ao longo da pandemia, desorganização das cadeias produtivas e efeitos da guerra.
Não por acaso, bancos centrais ao redor do globo estão alinhados na elevação de suas respectivas taxas de juros. Foi assim com Banco Central Europeu (BCE), que, na semana passada, confirmou a primeira alta de juros em 11 anos. O mesmo ocorreu em países como Suíça, Austrália, África do Sul, Canadá, Inglaterra e México. No Brasil (13,25% ao ano) já são onze remarcações consecutivas na taxa Selic.
Valter Bianchi Filho, sócio-diretor da Fundamenta Investimentos, lembra que a inflação “é um bicho conhecido”, uma vez disseminada entre os agentes econômicos, o custo para “quebrar a espinha dorsal” e restabelecer a disciplina de preços é bastante elevado. O problema é que não se sabe exatamente até onde os Estados Unidos irão para atingirem a chamada taxa neutra (que não estimula nem restringe o crescimento).
Enquanto isso, um dos principais efeitos da elevação dos juros norte-americanos é a apreciação do dólar frente às demais moedas. Isso funciona como uma forma de exportar a inflação para o resto do mundo. Na prática, quando a moeda norte-americana se valoriza, os Estados Unidos ficam mais caros para o resto do mundo e, com isso, é como se comprassem mercadorias mais baratas dos outros países. Só que, em contrapartida, arcam com a perda de competitividade do país:
– A Disney fica mais distante para todo mundo. Então essa perda de competitividade traz como consequência a redução da perspectiva de crescimento.
Eis a mensagem e o dilema da atual movimentação da política monetária dos Estados Unidos e o tamanho da pressão inflacionária externa para os países emergentes.
Maiores inflações:
(Por país, em 12 meses, até junho)
- Turquia
78,62% - Argentina
64% - Nigéria
18,60% - República Tcheca
17,20% - Rússia
15,90% - Polônia
15,50% - Chile
12,50% - Brasil
11,89% - Hungria
11,70% - Colômbia
9,67% - Inglaterra
9,40% - Estados Unidos
9,06% - Canadá
8,13% - México
7,99% - Itália
7,97% - África do Sul
7,42%
Fonte: Refinitiv
* Colaborou Mathias Boni