Mais do que um restaurante, o Espaço Tibet funciona como uma espécie de embaixada cultural do país asiático no Rio Grande do Sul. Localizado em Três Coroas, a cerca de 10 quilômetros do famoso templo budista da cidade, foi inaugurado em fevereiro de 2011.
Os sócios são a gaúcha Adriana e o tibetano Ogyen Shak, casados desde 2010. Ogyen, 45 anos, tem história de cinema: aos 16 anos, com os dois irmãos mais novos, fugiu do Tibete em razão da ocupação chinesa no país. Em uma travessia de mais de 30 dias, cruzou o Himalaia até conseguir chegar ao Nepal e ser acolhido como refugiado.
Após viver também na Índia, chegou ao Brasil em 2006 para fazer pinturas em um templo budista em São Paulo. No ano seguinte, visitou pela primeira vez o templo de Três Coroas, onde conheceu Adriana, que morou no local por 14 anos. Em 2010, se casaram, e no ano seguinte inauguraram o restaurante, que administram juntos.
— O sonho dele sempre foi divulgar a cultura do Tibete no Brasil, e o restaurante foi o espaço ideal para isso. Além da comida, a gente mostra também outros aspectos da cultura tibetana, como a pintura, o cuidado da natureza e a música — afirma Adriana.
Segundo a gaúcha, "a cozinha é um segundo templo" para os tibetanos, pois eles respeitam muito o alimento e o próprio ato de preparar uma refeição e servir às outras pessoas. Ogyen, chef principal do restaurante, aprendeu a cozinhar com os pais, ainda criança. Boa parte dos pratos servidos são receitas familiares.
— Ser cozinheiro é algo que me deixa muito honrado, porque, na nossa cultura, preparar e servir alimentos às outras pessoas é uma das atividades mais importantes, pois isso nos traz energia e nos mantêm vivos. Aprendi a cozinhar principalmente com meu pai, e hoje aplico esses ensinamentos aqui — diz o tibetano.
O Espaço Tibet serve principalmente pratos típicos do país, mas nenhum alimento fora do cardápio habitual brasileiro. A entrada principal é um orgulho nacional do Tibete: o momo, trouxinha de massa recheada com batata, carne e legumes, que, como explica Ogyen, representa para os tibetanos o que o churrasco é para os gaúchos. Ainda há pratos a base de cordeiro, uma das carnes mais consumidas no país asiático. O mais popular é o Racha, um pernil ao molho de cravo e pimenta, receita do pai de Ogyen que ele guarda na memória desde a infância.
A viagem ao Tibete continua na área externa do restaurante, com representações artísticas e culturais do país. Há murais, estátuas, um jardim de bonsais e também um espaço para preces, nas bandeiras de orações. Durante a pandemia, conta Adriana, enquanto o templo budista de Três Coroas ficou fechado, muitas pessoas começaram a se reunir nos jardins e na área externa do Espaço Tibet após a reabertura do restaurante.
— Por isso, para mim o Espaço Tibet é mais do que um restaurante, é um espaço onde posso compartilhar história, arte, aromas e sabores do meu país. O povo do Brasil é muito caloroso e me acolheu muito bem, então é uma honra poder retribuir esse carinho compartilhando um pouco da cultura do meu país com os brasileiros — acrescenta Ogyen.
O Espaço Tibet fica na Rua Alagoas, 361, em Três Coroas. Abre sextas-feiras, sábados, domingos e feriados, das 11h45min às 15h. Em julho, em razão das férias escolares, também abrirá nas quintas-feiras. Nesses tempos turbulentos, estender a visita ao templo pode ajudar na busca, se não da iluminação e do nirvana, ao menos de momentos de desapego, lucidez e paz.
Essa seção inclui experiências acumuladas ao longo da pandemia e sugestões de leitores. Quem quiser indicar pequenos negócios que se tornam grandes passeios pelas atrações que oferecem, podem mandar pelos e-mails marta.sfredo@zerohora.com.br e mathias.boni@zerohora.com.br, ou deixar aqui nos comentários.
* Colaborou Mathias Boni