Esta segunda-feira (13) começou com a informação de que haviam sido encontrados os corpos do jornalista britânico Dom Philips e do indigenista Bruno Pereira, desaparecidos desde o dia 5 de junho na Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas. No entanto, a Polícia Federal sustenta que não isso não ocorreu.
A confusão, que envolve a embaixada do Brasil em Londres, eleva o risco, para o Brasil, de que o ativo da Amazônia seja transformado em passivo criminal. Nos últimos meses, às queimadas e ao desmatamento que já inquietavam ambientalistas, começou a crescer a preocupação com a criminalidade na região.
Para a coluna, um dos primeiros sinais (tardios, é verdade) veio com da entrevista do climatologista Carlos Nobre, no início deste ano. Ao responder sobre qual a alternativa para a região, o especialista, que ajuda a desenvolver projetos de geração de emprego e renda na Amazônia, afirmou:
— O valor econômico dos produtos do sistema agroflorestal é muito maior. Açaí e cacau rendem 10 vezes mais do que a pecuária, e cinco vezes mais do que a soja. Cooperativas modernas conseguiram desenvolver produção com alto valor econômico em muitos mercados internacionais. Não é preciso manter intocada 100% da floresta, mas o modelo bioeconômico da floresta em pé traz muito mais benefício à economia. Não precisa continuar o modelo de baixíssima produtividade e de mineração ilegal, que explodiu nos últimos anos com o sinal verde do governo federal a qualquer exploração, inclusive a criminosa.
No mês passado, foi a vez de o embaixador da Alemanha no Brasil, Heiko Thoms, chamar a atenção dos gaúchos, em passagem por Porto Alegre, para uma realidade que parece mais distante do Rio Grande do Sul do que seu país:
— O Brasil tem potenciais enormes na área de sustentabilidade, ofuscados por índices de desmatamento altos que, infelizmente, continuam a crescer. É ainda ainda mais lamentável que uma minoria criminosa enriqueça (destaque da coluna) em prejuízo da grande maioria de produtores. Isso tem de acabar, e estamos dispostos a prestar apoio por meio da cooperação. Mas, para isso, precisamos de avanços e sinais claros de vontade política. Do contrário, as resistências políticas ao acordo tendem a se fortalecer e dificultar sua conclusão.
Caso as mortes sejam confirmadas, o Brasil, que já sofre com o desgaste da imagem internacional provocado por queimadas e desmatamento, será ainda mais visado. A Amazônia tem uma riqueza que não se mede apenas pela ocupação intensiva, pela riqueza do subsolo, nem só pelo potencial da biodiversidade. Tem tudo isso, e ainda é um ativo para o o país e o mundo inteiros por seu papel regulador do clima.
Conforme relatos de quem circula na região, garimpos ilegais, piratas de madeira e grileiros já estão infiltrados por braços de facções criminosas que atuam não só na Região Norte, mas no Sudeste. A flexibilização da aplicação da lei, como impedir a destruição de equipamentos usados no garimpo e no corte de árvores, estimulou esse convívio. Tolerar essa situação pode custar muito caro ao Brasil.