Quando a coluna soube que a Plastiweber, de Feliz, havia recebido o WorldStar Award 2022, da Organização Mundial de Embalagens, em Milão, na Itália, quis entender melhor a trajetória que levou à distinção que destaca as melhores e mais inovadoras soluções no setor em todo o mundo.
Acabou descobrindo uma boa história: a indústria sonhada por um casal de agricultores que queria migrar do campo atualmente produz 800 toneladas de plásticos ao mês, com média de 85% de matéria-prima reciclada, chegando a 100% em algumas linhas.
Segundo Moisés Weber, filho do casal e CEO da empresa, a disposição de não desperdiçar faz parte dos valores dos pais, assim como o trabalho e a honestidade, muito antes da disseminação de conceitos como sustentabilidade e ESG (governança corporativa, social e ambiental). A produção começou em 1997 com material para plasticultura (cultivos protegidos por plástico, especialmente de hortigranjeiros).
— Um ano depois, surgiu o problema: os compradores vinham nos perguntar o que fazer com o lixo, porque não havia coleta pública. A alternativa, na época, era a queima, mas meu pai não quis e tratou de começar a reciclar com a tecnologia que havia. Era uma empresa pequena, com três funcionários, e já concorria com grandes empresas.
À medida em que foi crescendo, a Plastiweber elevou seus investimentos em soluções de reciclagem. Tem 300 funcionários e é movida por uma orientação do fundador-agricultor:
—Tudo o que dá certo vai ter concorrência, inovem.
Uma das conquistas, lembra o CEO, foi produzir embalagem secundária (sem contato com o produto) para a indústria alimentícia:
— Quebramos um paradigma ao atender a primeira empresa, há 18 anos. Até então, não se podia usar embalagem reciclada na indústria alimentícia. Criamos um filme para agrupar as embalagens tetrapak da Elegê. Aí, a Perdigão comprou a Elegê, entramos no ramo frigorífico. Hoje, fornecemos para BRF (dona das marcas Perdigão e Elegê), Ambev, Nestlé, Unilever, temos projeto-piloto com a Coca-Cola. Tivemos de aprender muito, nos qualificar, mas sempre acreditamos que, um dia, a sustentabilidade seria valorizada.
Segundo Moisés, a Plastiweber é a maior fabricante de plástico-bolha do Brasil: são cerca de 200 caminhões por mês desse material, que é apenas um dos produzidos em Feliz. A empresa buscou certificações e, quando a gestão de embalagens passou a ser um problema maior, tinha soluções.
— Quando a gente dizia ao mercado 'temos embalagem que atente aos requisitos de grandes marcas, inclusive com 100% de matéria-prima reciclada', percebia reação entre admirada e desconfiada, ainda mais nestes tempos de greenwashing (maquiagem verde, quando as empresas fazem de conta que são sustentáveis). Vimos que era hora de procurar uma forma de comprovar, por isso fomos atrás das certificações — relata, detalhando que uma delas, europeia, é inédita nas Américas, incluídos Estados Unidos e Canadá.
Finalmente, veio o reconhecimento da primeira embalagem com matéria-prima 100% reciclada pós-consumo e alto desempenho. Moisés explica que há indústrias fazendo reciclagem de resíduos de material de processo, que não foi para o lixo, o que é "mais fácil", segundo o CEO. E o "alto desempenho" significa que a aplicação do plástico todo reciclado não é apenas para sacos de lixo, mas em materiais mais sofisticados.
— Foi um reconhecimento muito bacana, que vai nos trazer mais trabalho. A gestão de resíduos é um ramo que, graças a Deus, está crescendo. Antes, era relegado a empresas consideradas de segunda classe, agora tem gente grande entrando nesse jogo — constata.
A Plastiweber também não passa por cima da letra do meio do ESG. Trabalha com cooperativas de reciclagem, que empregam muita gente, mas com remuneração ainda baixa, para ajudar a elevar os ganhos. Também faz educação para a sustentabilidade em 60 escolas do Vale do Caí, com projeto de coleta de resíduos que remunera as instituições:
— Compramos o material e a escola consegue comprar um projetor, um bebedouro.
Terminou? Não, ainda tem o projeto Resíduos pela Vida, em que a empresa faz doações a hospitais da região na proporção da entrega de materiais recicláveis.
— É preciso ter motivação para mudar o modelo mental — justifica Moisés.