Faltam apenas quatro meses para a estreia da tecnologia de quinta geração de celular, a 5G, nas capitais. Conforme Marcos Ferrari, presidente-executivo da Conexis Brasil Digital, que representa as operadoras de telefonia, o setor está "trabalhando para isso", mas tudo depende da retirada das antenas parabólicas para garantir a "limpeza" da frequência em que a nova tecnologia vai operar. Nessa entrevista à coluna, Ferrari afirma que algumas empresas estão usando uma frequência alternativa para antecipar a oferta do serviço e que Porto Alegre é "capital modelo" no Brasil em legislação para instalação de antenas.
Está tudo certo para estreia do 5G em julho?
Estamos trabalhando para isso. Uma condição essencial é limpar a faixa, tirar as parabólicas. Isso é necessário porque, se ligar o 5G na frequência, as parabólicas caem. Se em alguma localidade não houver mais interferência, se a operadora quiser, pode pedir para a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para antecipar o 5G. Mas esse processo está caminhando bem, não há dúvida de que vamos ligar o 5G em quatro meses.
Como está avançando o processo de retirada?
Foi criada uma sociedade de propósito específico, chamada de Entidade de Administração da Faixa (EAF), formada pelas empresas que ganharam o leilão, que é responsável por cumprir as obrigações do edital. São várias, entre as quais limpar a faixa principal, mas também implantar fibra ótica na Região Norte. Já está em operação, com diretoria própria.
Existe algum incentivo para a troca das parabólicas?
Havia uma estimativa inicial de que existem 20 milhões de famílias que usam antenas parabólicas no Brasil. As elegíveis para receber o kit gratuito da EAF são 13 milhões, mas só se vai saber o número exato quando for feito o levantamento caso a caso. Uma das exigências para a gratuidade é estar inscrito no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico, feito pelas prefeituras). Depois, precisa ser comprovada a efetiva interferência na faixa do 5G.
Pode haver restrição de material ou de logística com a guerra ou confinamentos na China?
No horizonte relevante, não se vê imprevisto que impeça a ligação do 5G nas capitais em julho. Mas tudo depende dos desdobramentos da guerra, da questão geopolítica. Estamos monitorando.
O 5G vai começar a operar só em alguns bairros de Porto Alegre?
Porto Alegre é a capital que está no top list da legislação municipal de licenciamento. Pode começar a instalar já, e só ligar quando liberar a faixa das parabólicas. Em julho, a obrigação das operadoras é instalar uma antena de 5G a cada 100 mil habitantes nas capitais (seriam, portanto, ao menos 15 antenas). Essa escala vai diminuindo. Até 2025, será preciso ter uma antena a cada 10 mil moradores de capitais. Outro compromisso é, onde não há conexão nenhuma, instalar ao menos a tecnologia 4G, que vai se expandir muito porque vai conviver com o 5G durante alguns anos. Temos prazos até 2029 para implantação do 5G.
A tendência é começar em bairros de maior poder aquisitivo, até porque os aparelhos compatíveis ainda têm preços altos?
O 5G não traz apenas mudança de aparelhos, é uma mudança na conexão móvel. É uma plataforma que terá aplicativos que estão chegando. O 4G foi uma plataforma que viabilizou Uber, Airbnb, aplicativos financeiros. A experiência do 5G vai depender das aplicações, que terão muita ênfase no B2B (entre empresas), como internet das coisas, manufatura 4.0, mas também telemedicina e educação conectada. É um perfil diferente. Alguma operadora pode optar, por exemplo, por dar prioridade a um polo industrial.
Testes que apontam que o 5G consome mais bateria são críveis ou ainda é cedo?
A tendência é de que as novas tecnologias sejam mais duráveis. Quem acessa apps com 5G tende a usar mais o aparelho para várias funcionalidades. Quem vê esportes pelo celular poderá, por exemplo, escolher o ângulo em que quer ver o jogo, se pela lateral ou de cima, ou até acompanhar um jogador específico. Isso pode consumir mais banda, o que é permitido pelo 5G, e provavelmente consome mais bateria, mas novos aparelhos também devem chegar com baterias mais duráveis.
Porto Alegre é uma exceção positiva ou as demais capitais estão avançando na legislação? Em termos de lei de antenas, Porto Alegre é a capital modelo no Brasil em conectividade. Foi um processo longo, construído a várias mãos. O fato mais recente é o lançamento do Licença na Hora, a operadora faz o pedido, a prefeitura avalia os documentos e emite a licença. É um benchmark (modelo) para todo o país. Curitiba e Florianópolis avançaram, São Paulo também, no final do ano passado, mas outras capitais importantes não estão caminhando como deveriam, como em Belo Horizonte.
Como sempre surge a dúvida, como estão os estudos sobre o impacto na saúde da radiação de celular?
Esse é um tema vencido, há muitos estudos técnicos para demonstrar. A maior prova de que não há qualquer problema é ter uma antena de celular no prédio da sede da OMC (Organização Mundial do Comércio) em Genebra, na Suiça.