Com a definição das regras para a licitação da tecnologia 5G no Brasil e seu leilão previsto para este primeiro semestre de 2021, entra-se em contagem regressiva para o fim do funcionamento de algumas antenas parabólicas utilizadas para assistir à TV aberta.
Isso porque a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) determinou que a banda C, quer dizer, a faixa de frequência de 3,5 GHz, será usada pela internet. A questão é que o sinal dessas parabólicas ocupa a frequência de 3,7 GHz, ou seja, uma faixa vizinha à do 5G. Caso ambas coabitem, o sinal das antenas parabólicas seria fortemente afetado, explica Rafael Kunst, doutor em Engenharia da Computação e professor do Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada da Unisinos.
— O 5G tem um sinal mais potente e pode gerar interferências nas antenas que usam sinal de TV aberta. São tecnologias diferentes, mas que operam em frequências próximas. O 5G pode atuar em várias faixas, mas a de 3,5GHz fornece uma boa transmissão de dados e cobertura razoável — pontua.
Jéferson Nobre, professor do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ressalta que a migração do sinal de televisão teria que ser feita em algum momento, já que a expectativa é de que toda faixa usada pelas parabólicas seja utilizada pelo 5G.
— Quando se aumentar a velocidade de implementação dessa tecnologia, serão necessárias mais faixas de frequência, e se elas não estiverem disponíveis, teremos um impeditivo para a ampla implementação do 5G no país. O governo tinha em mente duas estratégias. A de mitigação das interferências por meio do uso de filtros nos televisores para evitar ruídos no sinal acabou sendo rejeitada pelos conselheiros da agência e, além disso, não resolveria o problema no futuro. Por isso, optou-se pela migração — aponta.
O que o usuário precisará fazer
Essa mudança de faixa implica a distribuição e a instalação de kits que permitam a recepção do sinal de TV aberta transmitido na banda Ku. Ou seja, a antena parabólica será substituída nas casas das pessoas por outro equipamento que vai garantir o sinal de TV aberta.
Vale lembrar que, com a migração, as pessoas não ficarão desassistidas. A Anatel prevê que, até 2025, haverá transmissão concomitante tanto na faixa atual quanto na nova. Então, em 2025, deve ser feito o desligamento, e somente aqueles que tiverem adquirido os novos aparelhos poderão continuar assistindo à TV aberta por parabólica.
Também é importante ressaltar que parabólicas das operadoras de TV via satélite, por assinatura, já operam na banda Ku. Usuários desses equipamentos não serão afetados.
Sinal de TV por parabólicas chega a 17 milhões de lares brasileiros
Em coletiva de imprensa realizada sobre o tema, Carlos Baigorri, conselheiro da Anatel, afirmou que as pessoas afetadas pela migração receberão um kit que vai conter uma antena menor para substituir a parabólica. A agência estima que 20,7 milhões de lares têm TV por parabólica no país. Do total, 17 milhões de parabólicas usam o sinal aberto na banda C.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, de 2018, no Rio Grande do Sul, 21,1% dos domicílios contam com esse tipo de antena. Contudo, quem poderá sentir os efeitos das mudanças está nos 2,8% dos lares com televisão que recebe a transmissão única e exclusivamente por meio do sinal proporcionado pelas parabólicas.
Ainda segundo a Anatel, 8,3 milhões de casas terão a migração custeada a partir dos recursos arrecadados com o leilão. Ou seja, esse público, por ser beneficiário de programas de baixa renda do Cadastro Único, não pagará pela mudança. As 9,2 milhões de parabólicas restantes terão de trocar os equipamentos com seus próprios recursos. A previsão da agência reguladora é de que o kit custe R$ 250.
Vale ressaltar que a distribuição e instalação dos kits ficará sob a responsabilidade de uma entidade que será criada com esse propósito.
5G promoverá um salto na conectividade brasileira, dizem especialistas
A chegada do 5G no Brasil é essencial para o desenvolvimento da internet das coisas (IoT, sigla em inglês), porque ele potencializará a comunicação entre máquinas.
Nobre diz que a velocidade da internet aumentará, logo, a transferência de dados será mais dinâmica e rápida. Ao mesmo tempo, cairá a latência, ou seja, o tempo de resposta das transmissões:
— A telemedicina pode vir a dar um salto. Além disso, poderá haver um forte impacto em cidades que ainda não contam com banda larga por cabo. Porque elas estarão aptas a usar o 5G, que é uma internet de alta velocidade.
Kunst reforça que a novidade tem potencial para levar o desenvolvimento para todo o país:
— Diversas localidades têm internet, mas não contam com cobertura em toda a cidade. Com o 5G, a tendência é de que a gente caminhe para uma qualidade bem maior da internet. Isso permitirá a expansão do empreendedorismo e da conectividade. Se tivéssemos, por exemplo, o 5G instalado no Brasil neste momento (de pandemia e aulas remotas), não teríamos enfrentado tantos problemas de acesso à internet para o ensino das crianças.