O conselho diretor da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) deve discutir nesta segunda-feira (1º) o edital do leilão do 5G, a tecnologia que aumentará em pelo menos 100 vezes a velocidade da internet no Brasil – entre outros avanços tecnológicos. Portaria do Ministério das Comunicações, editada na sexta-feira (29), estabeleceu regras e, no texto, não restringe concorrentes (íntegra, aqui). Isso abre caminho para a polêmica participação chinesa na licitação.
Como se sabe, grande parte do governo federal, aí incluído Jair Bolsonaro, vê com desconfiança a possibilidade de empresas chinesas dominarem as telecomunicações no país. O presidente e seus filhos deixam claro nas redes sociais que são adeptos da teoria de Donald Trump (ex-presidente norte-americano) de que a China pode usar a telefonia para espionar países.
Os militares brasileiros pensam o mesmo, mas não só em relação à China. Acham que espionagem pode ser feita por quaisquer países – inclusive os EUA, como ficou claro nos documentos vazados pelo analista de inteligência Edward Snowden na década passada e que mostravam vários países espionados por agências norte-americanas, entre eles o Brasil.
Pragmáticos, os militares aconselham o governo a permitir a presença (e a vitória) de qualquer empresa, inclusive as chinesas. Em troca, embutiram na portaria do Ministério das Comunicações uma exigência capaz de dar um mínimo de garantia cibernética: a criação de uma rede privativa de alta segurança para comunicação do governo federal. A rede chegará a todo o território nacional com infraestrutura de cabos de fibra ótica e, no caso específico do Distrito Federal (onde ficam os principais órgãos governamentais), também por meio de uma rede móvel.
Os militares, incluindo aí o vice-presidente Hamilton Mourão, penaram para convencer Bolsonaro e seu círculo mais próximo de que o veto aos chineses não faz sentido. Afinal, a chinesa Huawei JÁ DOMINA o fornecimento de equipamentos de telefonia no Brasil. São dela 65% do hardware usado em operações da Vivo e 55% da Claro, para ficar em dois exemplos (segundo dados do Ministério das Comunicações).
Os chineses vão ganhar o leilão do 5G brasileiro? Aí é outra conversa. Pesam vários lobbies na decisão, além de questões tecnológicas. Mas vetar empresas chinesas equivaleria a enfrentar represálias do maior parceiro comercial do Brasil, a China (responsável por 28% das exportações brasileiras). E essas trocas incluem as vacinas, tão reivindicadas pelo povo brasileiro no momento.