A informação extraoficial de que o presidente Jair Bolsonaro pretende proibir a participação da chinesa Huawei na implantação da telefonia móvel de quinta geração, o 5G, no Brasil, já começa a provocar impactos.
Há meses, o Brasil é alvo de pressões de polos opostos. De um lado, os Estados Unidos insistem que a empresa que detém a tecnologia é uma ferramente de espionagem e sugerem que as acordos de cooperação entre os dois países correm risco se a Huawei entrar no 5G. De outro, a China, maior cliente do Brasil, usa a essa condição para sugerir que a proibição poderia impactar os negócios.
A informação sobre a decisão em estudo no Planalto foi publicada no jornal Valor Econômico. Segundo essa versão, Bolsonaro avalia proibir a Huawei com base nos argumentos americanos: seria uma ameaça à soberania do Brasil e à privacidade dos dados. Como os EUA não têm uma fornecedora de tecnologia 5G para chamar de sua, indicam como alternativa duas europeias – a finlandesa Nokia e a sueca Ericsson –, além da sul-coreana Samsung.
Nesta segunda-feira (19), em entrevista à Folha de S.Paulo, o presidente da Huawei no Brasil, Sun Baocheng, afirma que, sem a Huawei, o Brasil demoraria até quatro anos para ter 5G. As operadoras, detalha, teriam de trocar todos os equipamentos da Huawei que usam hoje e não "conversam" com os dos concorrentes. Sim, porque todas as empresas que operam aqui já usam equipamentos da gigante chinesa. Se de fato a companhia é "instrumento de espionagem", os chineses já são eficientes concorrentes das big techs americanas e seus dispositivos oniscientes.
De janeiro a setembro, as compras feitas pela China no Brasil cresceram 14%. Como as dos EUA caíram 31,5%, a fatia chinesa nas exportações brasileiras saltou de 27,6% de janeiro a setembro de 2019 para 34,1% em igual período deste ano. O peso dos americanos decresceu de 13% para 9,7%. Conforme a fonte extraoficial, a decisão de Bolsonaro de barrar a Huawei se basearia na percepção de que a China depende dos alimentos que importa do Brasil.
Nos nove primeiros meses de 2020, a China comprou o equivalente a US$ 53,4 bilhões do Brasil. Só em setembro, os chineses compraram US$ 202,8 bilhões do mundo inteiro. É preciso pesar com cuidado a decisão. A China é muito mais importante para o Brasil do que o Brasil é para a China. A escolha precisa preservar, acima de tudo, os interesses nacionais. Não será fácil, qualquer que seja, mas não pode seguir o roteiro impulsivo que, muitas vezes, guia as decisões presidenciais.