As especulações vêm de alguns dias, mas nesta quarta-feira (23) mereceram análise detalhada da XP, o que significa que não é um "evento" desprezível.
A anunciada expansão no Brasil de uma misteriosa varejista de moda da China, a Shein, mete medo na concorrência e força o mercado a analisar seu impacto.
Apesar da alta visibilidade, a Shein é "misteriosa" porque não abre seus números. Portanto, ninguém sabe com exatidão o tamanho da companhia e seu valor de mercado. Conforme a Bloomberg, rede americana especializada em economia, uma recente rodada de investimento foi baseada em avaliação de US$ 30 bilhões.
Atualmente, a Shein atua no Brasil por meio de um aplicativo, mas importa tudo o que vende. Há pouco, estruturou um escritório e um centro de distribuição (CD) e está em busca de parcerias com fornecedores locais, como a Amazon fez antes de uma expansão agressiva no país.
Fundada na China em 2008 por Chris Xu com o nome ZZKKO, começou focada em vestidos de casamento. Depois de ampliar as vendas para toda a moda feminina, em 2012 mudou o nome para SheInside e acabou reduzindo para Shein em 2015. Nasceu como empresa digital focada em exportações, beneficiando-se na bem desenvolvida indústria chinesa de roupas e um sistema de logística eficiente para chegar a vários países com preços competitivos. Hoje, exporta para cerca de 220 países.
A XP vê impacto "negativo" para as brasileiras focadas em média ou baixa renda, por "aumentar o ambiente competitivo do setor". Conforme a gestora, a chinesa se beneficia de velocidade e atualidade, vasto sortimento e preço competitivo. Por outro lado, enfrentará obstáculos com prazo de entrega — hoje de até 30 dias —, falta de multicanais e logística reversa. Mas os analistas ponderam que, se instalar mais CDs, abrir lojas e contratar fornecedores locais, poderia reduzir essas desvantagens.
"Vemos as varejistas focadas em baixa renda como as mais expostas a esse risco, porém as de média renda também podem ter algum impacto. Nesse sentido, elencamos C&A, Lojas Renner e Hering como as mais impactadas, nessa ordem. No entanto, como a Hering tem posicionamento de moda mais básica, o risco pode ser mitigado", detalha a XP.
Como a também chinesa Aliexpress e a tailandesa Shopee, a Shein se focou na importação como a estratégia de entrada. Como foi o aplicativo de moda mais baixado no Brasil em 2021, está montando estrutura local. Já havia feito isso nos Estados Unidos e em Portugal. Aqui, segundo a XP, estaria avaliando parcerias com fornecedores regionais no fornecimento de itens em que o país é produtivo, como jeans, para reduzir o tempo da produção até a entrega).
Um problema que a XP não aponta, mas precisa ser considerado, é exatamente o mistério que cerca a Schein: tem pontuação de 1 no mais recente Fashion Transparency Index, que classifica a transparência de dados de grandes marcas globais. Na mesma edição, a sueca H&M teve 68 e a espanhola Zara, 36. Também há muitas dúvidas sobre as condições de trabalho nas fornecedoras chinesas da varejista.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo