No copo da inflação para 2022, que estava meio cheio — índice cairia à metade —, meio vazio — preços seguiriam subindo — evaporaram alguns mililitros. Embora "desacelerada", a primeira prévia do IPCA do ano veio muito acima das expectativas.
Por isso, instituições financeiras e consultorias anunciaram revisão para cima nas projeções da inflação para este ano, acima das já registradas em poucas semanas de 2022.
Conforme a XP, o IPCA-15, que tem cálculo igualzinho ao IPCA "cheio", só é pesquisado em período de 30 dias descasado do calendário (de 15 de um mês a meados do seguinte), de 0,58% em janeiro veio "acima das nossas estimativas (0,45%) e da mediana das expectativas do mercado (0,44%)".
— A primeira previa da Inflação de 2022 surpreendeu e tem reflexos na projeção do ano — observou Tatiana Nogueira, economista da XP, comunicando em nota uma alta de 10 pontos básicos na projeção para o IPCA de 2022.
Outra revisão veio do Itaú Unibanco. Também em nota, as economistas Julia Passabom e Luciana Rabelo ajustaram a projeção para o ano de 5% para 5,3%. O ajuste é simbólico, porque 5% é o máximo aceitável para o IPCA deste ano pelo sistema de meta de inflação do Banco Central (BC).
Dois anos seguidos de estouro do teto da meta não serão uma boa estreia para a recentemente adquirida autonomia formal. Em outras palavras, significa que o presidente e os diretores da instituição não podem ser demitidos fora de seu mandato, a não ser por falta grave. E a onda de revisões se espalhou, com números ainda mais preocupantes: o Santander Asset Management elevou sua estimativa de 5,5% para 5,7%, e o Credit Suisse espera, agora, IPCA de 6,2% em 2022.
Entre as surpresas "altistas" apontadas pelas instituições financeiras estão itens de higiene pessoal, combo de telefonia, internet e TV por assinatura, energia elétrica, aluguel e veículo próprio. A XP detalhou que o gasto com emplacamento e licença registrou variação de 1,7%, para projeção de 1,25%. É o "efeito IPVA".
A surpresa negativa com o IPCA-15 elevou as taxas de juro futuro no curto prazo, o que vai pressionar a decisão do BC sobre a Selic na próxima quarta-feira (2). Há expectativa de mais uma alta de 1,5 ponto básico em fevereiro, seguida de outra de 1 ponto em março, quando se encerraria o ciclo de "aperto monetário", com taxa básica a 11,75% ao ano. Isso, sem nada inesperado no horizonte. Mas já surgiu uma nuvem escura.
Os principais índices de inflação
IGPs: Índices Gerais de Preços, calculados pela Fundação Getulio Vargas. Têm três variações, IGP-M, IGP-DI e IGP-10, com diferença apenas no período de apuração. Cada um é composto por três componentes: Índice de Preços no Atacado (IPA), com peso de 60%, Índice de Preços ao Consumidor (IPC), com peso de 30%, e Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), com peso de 10%.
IPCA: Índice de Preços ao Consumidor Ampliado, calculado pelo IBGE, é considerado oficial porque serve de referência para o Banco Central calibrar o juro básico. Mede variação de preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e 40 salários mínimos.
INPC: Índice Nacional de Preços ao Consumidor, também do IBGE, mede avariação nos preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e oito salários mínimos. É a referência para negociações de reajustes salariais.
IPCs: Índices de Preços ao Consumidor calculados pela FGV, tem quatro variações, entre as quais a mais conhecida é o IPC-S.