Logo depois de 11 de janeiro, quando será conhecida a inflação medida pelo IPCA no Brasil neste ano, o país conhecerá a carta que vai definir 2022.
O texto decisivo para a economia nacional é o que o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, terá de escrever para justificar por que não cumpriu a meta de inflação. O teto era 5,25%, o resultado pode passar do dobro.
Será um dos documentos mais esquadrinhados nas consultorias econômicas e instituições financeiras. A parte das explicações é a que menos importa. Campos Neto vai mencionar a pandemia e a inflação mundial. Não deixará de falar do estrago da farra nas contas públicas, no mesmo banco-centralês do comunicado que justificou a alta do juro básico de 7,75% para 9,25%: "questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevam o risco de desancoragem das expectativas de inflação". Tradução: furo no teto faz os preços subirem.
É na segunda parte da carta que as atenções vão se concentrar. Depois de se explicar, Campos Neto terá de detalhar as providências que adotará para corrigir o rumo e definir um prazo para voltar à meta. É o que tornará claro se o "discurso duro" lido pelo mercado no comunicado da semana passada, apesar da clara disposição de não agravar a recessão, significa ação compatível ou se foi só discurso mesmo.
O Brasil nunca viveu um ano eleitoral com BC autônomo. Desde que o sistema de metas foi adotado, em 1999, nunca houve alteração da Selic nos meses anteriores ao pleito. Se quiser ser duro, o BC terá de ser rápido. Até auxiliares observam que, se Jair Bolsonaro tivesse entendido o que é a autonomia do BC, não teria sancionado a medida. O presidente do BC é indemissível até 2024, salvo por falta grave. Em público, Bolsonaro já disse que "fez um pedido" a Campos Neto e ouviu um "não". O próximo ano será tenso para o BC.