Do CEO à matéria-prima, todos os processos que envolvem a Dobra, empresa de Montenegro, são inusitados. No início da pandemia, parou por decisão própria, não por restrições. Virou o jogo e lançou um novo negócio a partir da experiência.
Adepta do modelo de capitalismo consciente, produz carteiras, tênis e itens de decoração feitos com tyvek, sintético feito a partir de fibras que formam material semelhante ao papel, em textura e forma, mas mais resistente.
O projeto nasceu em 2016, durante trabalho acadêmico feito por Guilherme Massena e colegas. Três anos depois, Massena lançou o negócio, ao lado do irmão Augusto e do primo Eduardo Seelig.
— Avaliamos o fluxo de caixa, constatamos que tínhamos dinheiro para manter a empresa por cinco meses. Decidimos tirar o site do ar, porque pensamos 'a gente não vende produtos que mudem a vida das pessoas agora'. Iniciamos a operação do Dobraflix (plataforma de conteúdos) e passamos a distribuir materiais produzidos por nós e por parceiros.
Também passou a oferecer seu curso para empreendedores de forma gratuita — até então, custava R$ 130. Em dois meses, a Dobraflix foi acessada por mais de 30 mil pessoas. Neste ano, a lançou uma plataforma paga de mentoria, o Laboratório Dobra. Empreendedores têm acesso aos conteúdos a partir de assinatura anual.
A ideia de produzir capas para kindle e notebooks também surgiu durante o período de isolamento social, por sugestão de um cliente. Além disso, no primeiro ano da pandemia, a empresa investiu em produtos para casa, como luminárias, e comprou um novo equipamento de corte das peças.
Capitalismo consciente na prática
Não existe hierarquia entre os funcionários. Quem assumiu o papel de CEO foi o cachorro da raça pug chamado Batman, que também assina os e-mails da Dobra. Guilherme explica melhor:
— O Batman é "filho" do Dudu (Eduardo, um dos sócios) e sempre esteve presente, porque começamos a operação no apartamento do Eduardo. Da porta para fora, causa impacto nas pessoas e, da porta para dentro, é algo como 'ninguém é melhor do que ninguém, pois o CEO é um cachorro' (risos).
Guilherme ressalta que, como qualquer empresa, a Dobra quer lucro. Esse não é o objetivo principal, mas um meio de gerar impacto:
— Queremos ganhar dinheiro, mas não a qualquer custo. O lucro é um oxigênio para que a empresa possa gerar impacto positivo na sociedade.
Outras ações são pensadas nesse sentido, como produzir sob demanda - que evita o desperdício de matéria-prima -, usar mão de obra local e recolher produtos que os clientes não usam mais. Conforme a coluna adiantou, a empresa é uma das apoiadoras do Instituto Capitalismo Consciente Brasil (ICCB) que, a partir de janeiro de 2022, terá uma filial no Rio Grande do Sul.
O que é capitalismo consciente
É o movimento que inspirou a grande maioria das grandes empresas a acrescentar um "propósito" à "missão". Foi lançado no livro Capitalismo Consciente: como Libertar o Espírito Heroico dos Negócios, do empresário americano John Mackey e do consultor e professor de negócios globais na Babson College (EUA), Raj Sisodia.
* Colaborou Camila Silva