As empresas precisam medir seu sucesso pelo impacto que causam na sociedade, e não pelo lucro. Esse é o ponto central defendido pelo seguidores do chamado Capitalismo Consciente. Embora possa parecer ingênuo - especialmente no Brasil, em um ano de revelações de casos de corrupção envolvendo grandes companhias e cifras bilionárias -, para o indiano Raj Sisodia, cofundador da linha de pensamento, a aplicação desse conceito é fundamental para o desenvolvimento saudável da economia global.
É esse ponto de vista que ele irá apresentar no ciclo de palestra CEO Fórum, promovido pela Amcham Porto Alegre nesta terça-feira. Em entrevista por vídeo à coluna +Economia, Sisodia antecipou alguns dos pontos que irá abordar na passagem pela Capital.
Além da acumulação
- O lucro não pode ser o principal objetivo de uma empresa, porque o propósito do ser humano não é só acumular dinheiro.
Essa frase resume bem o espírito do Capitalismo Consciente. Para Sisodia, as companhias precisam ter objetivos alinhados com o desenvolvimento da sociedade. Devem querer impactar o mundo de maneira positiva. Esse processo passa pela aplicação de valores e formação de uma cultura empresarial positiva e engajadora - tanto para os empregados quanto para os consumidores. Ele avalia que o principal desafio para implementação desse conceito é a mudança de mentalidade das pessoas que controlam as empresas.
- Há uma máxima nas companhias de que se não pensarem em lucro, não vão atingir ganhos financeiros. Esse tipo de pensamento criou um ambiente tóxico nas empresas - afirma.
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Espelho do líder
Além da atitude em relação à empresa, Sisodia tece duras críticas ao perfil dos líderes no cenário atual, que entravariam a aplicação de conceitos inovadores na economia. Na opinião dele, os executivos e donos de grandes companhias pensam mais no próprio prestígio e sucesso financeiro do que no negócio, e esse comportamento se reflete nas estratégias e objetivos traçados pelas empresas.
- Se não tivermos líderes que pensem em um propósito mais humano para o negócio, não tem como implantar mudanças. A mentalidade deve ser "sou responsável pelo impacto do meu negócio no mundo" - acredita.
Resultado de crises
Assim como no caso do movimento criado por Sisodia, as recentes crises econômicas globais - apenas na última década foram duas - motivaram o surgimento de outras linhas que repensam o capitalismo moderno. No entanto, para Sisodia, o problema do sistema econômico atual é que ele foi estreitado ao longo de seu desenvolvimento. O capitalismo cresceu somente com foco material.
- Do jeito que foi construído (o capitalismo), construiu-se um cenário em que pessoas são contra as empresas, e é justamente pelas companhias que passa a mudança - avalia o indiano.
Sisodia pondera que as pessoas passaram a depender demais do Estado, que se tornou muito grande.
- O Estado não pode criar a prosperidade no futuro. O Estado não é o futuro.
Corrupção no brasil
As ideias e críticas de Sisodia estão no cerne dos debates envolvendo os recentes escândalos de corrupção brasileiros. Embora admita não conhecer a fundo a situação brasileira, ele entende que o que ocorre por aqui é fruto, principalmente, do crescimento desproporcional do papel do governo.
- Em um mercado livre, o jeito de ser o melhor é com melhores serviços, melhores empregos. Mas quando o Estado tem muito poder, as companhias, às vezes, são colocadas em uma posição de que as leva a entrar nesse meio (corrupção). Muitas vezes, é questão de sobrevivência para elas - avalia.