O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
A urgência de compromisso e empenho para que o Brasil alcance metas mais ambiciosas de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) foi tema de debate no Climate Hub, em Glasgow, na Escócia, onde acontece a 26ª Conferência do Clima, a COP26. O espaço, destinado à sociedade civil, originou um evento plural que reuniu governadores, parlamentares, empresários e lideranças dos movimentos ambientalista e indígena.
Na ocasião, ficou claro o descontentamento com a política ambiental adotada pelo país e a relevância de implementar medidas que garantam um desenvolvimento mais sustentável e inclusivo. O debate teve como base o processo de construção realizado pela Iniciativa Clima e Desenvolvimento: Visões para o Brasil 2030 que, ao longo de seis meses, ouviu mais de 300 pessoas em consultas para a elaboração de um documento, que foi apresentado na COP26.
Neste período, o Centro Clima da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Instituto Talanoa realizaram uma série de sondagens com especialistas e lideranças, como presidentes de empresas, dirigentes de organizações sociais, ex-ministros, governadores, prefeitos, parlamentares, além de empresas, fundos de investimento e associações privadas. A maior parte desses atores já assumiu compromissos de zerar carbono antes de 2050, o que hoje corresponde a 58% das emissões no Brasil.
As consultas realizadas evidenciaram ainda que o país possui condições de seguir trajetória mais audaciosa de descarbonização. A iniciativa esboçou, a partir disso, uma estratégia compatível com a proposta de emissões de GEE até 2030 (redução de 66%), o que leve à neutralidade de emissões de GEE em 2050. Como pano de fundo, também estão a geração de empregos e a redução de desigualdades, associadas com a adoção das medidas e ações mapeadas.
Falando pelo Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite lembrou que, do ponto de vista da conscientização para os problemas relacionados à mudança do clima, “já se avançou muito e a ausência do governo federal gerou uma maior mobilização e engajamento social na direção de uma transição justa” para uma economia mais sustentável.
Dentro das visões e propostas, a presidente do Instituto Talanoa, Natalie Unterstell, definiu o que ela considera um projeto de país:
-Internamente, estamos numa fase de retrocesso, e o que a gente ouviu dos representantes da sociedade civil é que qualquer estratégia de mudança começa com o combate à desigualdade social, pois não há como pensar em desenvolvimento, no cenário atual, sem haver uma retomada da economia, com um mínimo de distribuição de renda - sentenciou.
Para Natalie, a economia precisa crescer de forma “ambientalmente correta” e a questão climática é uma oportunidade para debater um outro modelo de desenvolvimento, que não seja poluente ou excludente:
– E isso é possível, é bom para economia, é bom para os brasileiros, é bom para o planeta - completou.
Entre os presentes, Emílio La Rovère, do Centro Clima da UFRJ, destacou que, agora, existe uma janela para transformar “crise” em “empregos”. No entanto, o caminho, diz, passa, sim, pela chamada economia verde e soluções baseadas na natureza.