O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Autora do livro “The Green Factory – Creating a Lean & Sustainable Enterprise” publicado nos Estados Unidos, a doutora em Sustentabilidade pelas Universidades de Cardiff, na Inglaterra e UFRGS, no Brasil, Andrea Pampanelli destaca o crescimento do ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) nas empresas gaúchas. Em tempos de pandemia e COP26, o tema estimula o debate sobre o papel das corporações na preservação planeta.
O ESG é a nova sustentabilidade?
O conceito de sustentabilidade foi criado em 1987 e recebeu novas roupagens com o passar do tempo. Em determinado momento, se entendeu que ele deveria ser aplicado para as indústrias e veio a sustentabilidade corporativa. A sustentabilidade corporativa é uma abordagem de negócios e, como tal, envolve riscos e oportunidades. Já o termo ESG foi cunhado em 2004 e, originalmente, vem do mercado financeiro para referir as práticas para a tomadas de decisão de investimento. Hoje, existe um grande debate para entender o que é uma coisa e outra. Considera-se então que o ESG é o que traz a sustentabilidade para a realidade das empresas.
O que mudou com a pandemia?
Com a pandemia, o olhar foi ampliado, porque o “S”, do social, tomou proporção elevada. As empresas começaram a gerar um “repensar” sobre os seus próprios propósitos. Trabalho há 30 anos e vivi pra ver a sustentabilidade indo para a mesa principal dos conselhos das organizações. Uma série de empresas de renome se preocupa com estratégias e cria comitês de sustentabilidade para dar conta dessa demanda. Neste caso, empresas que usam insumos que se relacionam com a biodiversidades têm de implementarem práticas de ecoeficiência, por exemplo. Uma companhia de energia vai focar mais na gestão climática, uma de tabaco e fumo, vai ter que pensar em saúde pública e assim por diante. São temas que precisam ser olhados pelo viés daquilo que os próprios negócios impactam. O que fazer depende das características de cada empresa e onde ela está inserida. O “como” fazer é muito parecido. Já a questão climática impacta a todos os negócios. É uma agenda que precisa fazer parte de qualquer instituição. A mudança no momento é das corporações para o mercado financeiro, por buscarem resultados e transparência. As que têm capital aberto ou repercussão nacional maior estão mais avançadas e as mais tradicionais se despertaram para a temática.
Por onde começar? Pelos riscos ou pelas oportunidades?
Primeiro passo é resolver os riscos. Quando se tem um problema, vai sair caro, vai dar trabalho. Mas para as que já começaram e, mesmo as pequenas, que possuem uma pegada de governança mais sólida, é possível alcançar um estágio que permite acessar ao campo das oportunidades. Aí, sim, pensa-se em que práticas aplicar dentro dos processos para otimizar o uso de recurso, sejam eles naturais ou de materiais. Um exemplo é o Lean Green, uma abordagem de negócio para as metalmecânicas e automotivas que é parte do nosso Estado há muito tempo. Tem como premissa fazer mais com menos. Usar bem os recursos, melhorar fluxos e manutenção. É uma prática que carrega vários conceitos associados ao ESG. Fazer isso em beneficio para o ESG é inteligente. Usa-se algo que já está nas empresas, uma linguagem instalada, para tornar outras coisas possíveis. Mas é um erro começar querendo as oportunidades. A principal competência é o pensamento sistêmico, entender que o que se faz aqui, impacta lá. A agenda ambiental é uma agenda física, é preciso modificar processos. E não se incorpora um sistema da noite para o dia. Consumir e Produzir precisam de uma nova versão. Penso que a solidez de propósitos e do bem comum é um negócio que vai perdurar por mais tempo. Existem empresas que sofrem pressão para mostrar resultados. Mas essa não é uma agenda de curto prazo, ela requer dinheiro, planejamento e olhar as coisas sistemicamente. Vejo organizações que tentam fazer tudo e, neste caso, menos é mais. Propagar ações e fazer fotos bonitas não são as melhores práticas. É melhor fazer a coisa consistente e mostrar resultados bacanas por completo.